“Zu bett, Marcos und Daniela”! Apesar da
sonoridade pesada alemã, a frase que meu pai usava para ordenar que minha irmã
e eu fôssemos dormir, porque já era hora de criança estar na cama, era dita de
maneira divertida e branda. Como éramos crianças da década de 1970, obedecíamos
sem pestanejar ao que nossos pais (e professores, e avós, e tios e adultos em
geral) diziam, e, ao ouvirmos o mantra paterno, dávamos início automática e
pavlovianamente ao ritual de preparação para o sono, que se iniciava às nove da
noite. É, crianças dos anos 1970 iam para a cama às nove da noite, sim,
senhorinhos e senhorinhas leitores (a vida a partir das dez da noite era um
mistério total para menores de doze anos de idade).
E o rito consistia em lavar os
pés (porque criança daqueles tempos corria de pés descalços na terra e na
grama), escovar os dentes, vestir o pijama e lavar as mãos. Lavava-se muito as
mãos, desde pequeninos, em Ijuí, naqueles tempos: antes de todas as refeições,
depois das refeições, depois de brincar, antes de dormir. Lavava-se as mãos
sempre, porque era, e segue sendo, cada vez mais, uma questão de higiene e de
cultivo da boa saúde. Tanto é assim que, não sei se o senhor leitor e a senhora
leitora sabem, mas, desde 2010, o Brasil adotou o dia 15 de outubro como data
destinada à conscientização sobre a importância desse ato tão singelo e crucial
de higiene. Hoje é o Dia Mundial de Lavar as Mãos. Já lavou as suas hoje?
Quando fiquei sabendo da
existência da data, num primeiro momento, levei um susto, imaginando que se
tratava de uma data especial criada para celebrar o ato simbólico de tirar o
corpo fora, de repassar o abacaxi adiante, de fugir das responsabilidades,
ações popularmente designadas como “lavar as mãos”, lembrando que tudo começou
com Pôncio Pilatos, o governador romano da Judeia, que fez assim na tentativa
de tirar o corpo fora da decisão de crucificar o nazareno que andava
incomodando alguns poderosos naquelas possessões palestinas, dois mil anos
atrás. Mas a História mostra que não adiantou nada Pìlatos lavar as mãos, e até
hoje ele é responsabilizado por ter feito o que fez, especialmente contra Quem
o fez.
Eis que assim aprendemos que
“lavar as mãos”, entre aspas, é atitude temerária, covarde e cínica, e faz mal
para a saúde da alma. Já lavar as mãos sem aspas é fundamental para a
manutenção da saúde de corpo e alma. Opte sempre pela segunda.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 15 de outubro de 2015)
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