Costuma ser batata! Estando eu
de polegar enterrado no botão dos canais do controle-remoto da tevê, zapeando
para cima, des-zapeando para baixo, vira e mexe eu estaciono no primeiro canal
que esteja exibindo algum documentário sobre vida selvagem. Isso porque sou
fissurado em bicho. Seja savana africana, Pantanal brasileiro, deserto do
Saara, selva asiática, o que for, aparecendo bicho, eu travo e fico. É o que
basta para logo ter a sala toda ela só para mim, a esposa debandando para o
quarto assistir na tevê de lá a alguma outra coisa menos animal e eu me
adonando de todo o território e do acesso mais rápido aos suprimentos de
porcarias na geladeira e na despensa. Viro o rei leão da sala sem ter sequer de
urrar.
Daí fico hipnotizado pelos anéis
coloridos da cobra-coral, pela agilidade matreira do guepardo (que é bem
diferente de leopardo), pela dança de acasalamento das avestruzes, pelas
artimanhas das hienas, pela inteligência dos elefantes e dos golfinhos, pela
ternura da mamãe-gorila com seus filhotes, pela organização coletiva dos
cupins, pela fome canibal da fêmea do louva-a-deus, pela esquisitice do
ornitorrinco, pela esquisitice maior ainda da equidna (que tenho certeza de que
a amiga leitora sequer sabia que existia, ahá!), pelo colorido esdrúxulo do mandril,
pela semelhança da ave kiwi com a fruta do mesmo nome (e que me diz dessa?), pela
ferocidade do dingo, pela elegância do tigre-de-bengala (apesar da bengala), pela
solidão da morsa, pela doçura do suricato (sou fã dos suricatos) e por mais,
muito mais.
Noite dessas, de zapeada típica,
descobri que as leoas, lá nas selvas africanas, detestam as girafas, porque
elas são tidas como “as fofoqueiras das savanas”. Aquela coisa: a leoa está lá,
barriga encostada no solo, olhos fixados na saborosa zebra que está dando mole
logo adiante e, quando se prepara para dar o bote final que garantirá o jantar
de toda a ninhada e do maridão (que não faz nada, por sinal), a girafa,
pescoçuda e de olho em tudo o que se passa ao redor, dá o alerta com um grito e
a zebra dá no pé. Ou melhor, nas patas, deixando a leoa a ver navios
imaginários. E morrendo de raiva da girafa, querendo pegá-la pelo pescoço. Que
coisa mais odienta essas girafas. Mas o mundo animal tem dessas coisas, fazer o
quê.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 28 de outubro de 2015)
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