Eis que então caiu a máscara e
pudemos, terça-feira, visualizar a verdade nua e crua: as zebras, no fim das
contas, éramos nós! Não a Nigéria, a Argélia ou a Costa Rica, mas sim a trôpega
e prepotente Seleção Brasileira, que resolveu fazer história pelo avesso,
espalhando pistas sobre suas intenções já na primeira partida contra a Croácia,
ao estrear sua avacalhada participação na Copa do Mundo com um gol contra.
Aliás, foi justamente o temor de
protagonizar pirâmides de gols contra no processo de acolher os visitantes
estrangeiros para a Copa, devido às conhecidas precariedades estruturais do
país, que pautou a maioria dos debates anteriores ao início da competição.
Porém, o que se viu foi que nossa verdadeira fragilidade não residia na
capacidade externa de maquiarmos momentaneamente nossas mazelas para receber
bem os turistas. Nossa real fragilidade situava-se mesmo era dentro de campo,
quando a nossa essência teve de ser revelada, mostrando aquilo que somos:
infantis, perdedores, messiânicos e descomprometidos. Acreditamos que nossos
problemas e desafios solucionam-se a partir de passes de mágica.
A Seleção Brasileira de futebol
se equivale à classe política brasileira (a quem tanto criticamos), uma vez que
tanto uma quanto a outra é composta por brasileiros iguais a nós todos. Ambas nos
representam fielmente; ambas são espelhos de nossas essências e refletem
exatamente aquilo que somos. O que se viu em campo terça foi um embate entre a
seleção do “jeitinho” e a seleção do trabalho árduo e focado. Só que o tal
“jeitinho” não funciona mais, nem no futebol e nem em qualquer outro aspecto da
vida humana, ocupando cada vez menos espaço no mundo civilizado, que se pauta
pelo empenho, pela dedicação, pelo suor, pela constância de propósito, pela
convicção de que os bons resultados advêm da entrega plena, e não da vontade de
deuses, de santos, de salvadores da pátria, de golpes de mágica redentores do
fracasso, do descompromisso e da vagabundagem.
Depois do jogo, as pessoas
passaram a externar vergonha por serem brasileiras. Sim, com certeza que sim.
Mas a goleada sofrida pela Seleção Brasileira frente à Alemanha é o menor dos
problemas que devem nos envergonhar, só para situar a coisa dentro de seus
devidos lugares. Agora temos eleições, por exemplo. Momento crucial para
apontarmos aqueles brasileiros que vão representar a todos nós nos próximos
anos. Há muito a fazer para que deixemos de tomar goleada da civilização. A
começar pela mudança de nossas posturas pessoais no trânsito, no trabalho, em
família, no dia-a-dia. Deixemos de ser hipócritas: os políticos são iguais a nós.
Os fiasquentos da Seleção, também.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 10 de julho de 2014)
Um comentário:
Genial seu texto, Kirst! Acho que "lucidez" seria a palavra que definiria essa sua crônica - e é o que nos falta, especialmente nesses dias embriagados, seja de Copa do Mundo, seja da mania nacional de colocar a culpa em tudo e em todos... As mudanças urgentes começam em nós mesmos, até porque essa é a única mudança possível e verdadeira...
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