Os alunos da Escola Municipal de
Ensino Fundamental Cinquentenário, de Farroupilha, estão de lápis apontados e
com os narizes mergulhados na leitura de livros e de textos, em plena
preparação para participar de mais uma edição da Olimpíada de Língua
Portuguesa, iniciativa bianual do Ministério da Educação que tem como foco
incentivar professores, escolas e alunos a incrementarem seus esforços na
leitura e na produção textual. Independentemente da classificação que vierem a
obter no certame, já são todos vencedores, pelo simples (e crucial) fato de
estarem envolvidos no processo de produção e análise de textos literários.
Sabem que, assim, estão pisando firmes no terreno da formação pessoal
transformadora por meio da leitura. Ponto para eles.
Dentro das atividades
preparatórias desenvolvidas na escola, as professoras decidiram convidar este
cronista que vos escreve a ir até lá bater um papo com os alunos do nono ano,
que andaram se debruçando sobre o gênero crônica e queriam tirar algumas
dúvidas ao vivo e a cores. Pois fui-me manhã chuvosa dessas para lá e, como não
poderia ser diferente em se tratando de mim mesmo, meia hora antes do combinado
lá estava eu, a meia quadra da escola, porque não consigo chegar atrasado nunca
a nada e não há psicólogo que me cure dessa coisa. Que fazer? Uma opção seria
chegar e atazanar a vida das profes, aparecendo muito cedo. Outra, seguir até
Caravaggio, que fica a um pulinho dali, e consumir o tempo restante. Foi o que
fiz.
Estacionei defronte ao Santuário
e telefonei para a esposa, que estava em casa. “Adivinha onde estou?”,
perguntei. “Num café”, chutou ela. “Não, em Caravaggio. Cheguei muito cedo, não
sei o que fazer”, expliquei. “Já que está aí, aproveita, entra na igreja e dá
uma rezadinha, ué”, aconselhou ela. Como conselho de esposa é ordem, obedeci.
Saí do carro, corri para dentro do Santuário (chovia, lembrem), de onde
escutava que estava sendo rezada a missa das nove, e me sentei em um dos bancos
da última fileira. Foi eu sentar que o padre, as mãos elevadas à frente,
pronunciou: “Ide em paz”, e encerrou a missa, bem na minha chegada, deixando-me
ali, com cara de “tá, meu, e aí”.
Levantei e rumei para a escola,
onde fui confrontado com a pergunta que não quer calar: “de onde você tira as
ideias para as crônicas?”. Ora, do fato de estar impressionantemente vivo,
conferindo significados mágicos a tudo o que acontece em volta e aprendendo,
todos os dias, que a vida não tem nada de banal e que até mesmo chegar no fim
da missa pode resultar em algo positivo, como servir de tema urgente para mais
uma crônica, por exemplo. Basta estar atento.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 4 de julho de 2014)
Um comentário:
Kirst! Estamos todos emocionados com o presente: tua crônica no Jornal Pioneiro. Estamos muito agradecidos pela tua visita, por tuas palavras de incentivo à leitura e à escrita e infinitamente felizes, pois tua vinda à nossa escola, vizinha do Santuário, "rendeu uma bela crônica". Um grande abraço da família Cinquentenário
Postar um comentário