O
mundo culturalmente civilizado celebra hoje, 23 de abril, os 450 anos de
nascimento de William Shakespeare, o dramaturgo e poeta inglês que, conforme
sustenta o catedrático norte-americano Harold Bloom, fez muito mais do que
legar à humanidade um conjunto de 37 peças teatrais permeadas de genialidade.
Com a construção de personagens complexos e psicologicamente bem elaborados,
que se movem em tramas densas e originais, Shakespeare teria, segundo Bloom,
alterado “o nosso modo de representar a natureza humana, se é que não alterou a
própria natureza humana”.
O
legado cultural de Shakespeare singra os mares do tempo encantando plateias e
leitores e exercendo uma influência decisiva sobre o processo de criação
artística ao redor do planeta no transcurso desses quatro séculos e meio. Datas
redondas como essa, além de fazerem a festa da mídia e suscitarem as justas
celebrações, oferecem o mérito maior de despertar a curiosidade e convidar
todos os que não conhecem a obra do gênio a arriscarem seus primeiros mergulhos
nela. Aos que já conhecem, fica o convite irresistível de revisitar algumas de
suas principais obras, enfrentando a difícil tarefa de qual delas escolher,
entre tantas, todas saborosas (Hamlet, A
Tempestade, Sonho de Uma Noite de Verão, Rei Lear, Noite de Reis, A Megera
Domada, A Comédia dos Erros, Muito Barulho Por Nada, Como Gostais, Romeu e
Julieta, Henrique IV, só para citar um punhado das que mais aprecio).
Depois
de conhecer a obra de Shakespeare, se encantar por ela e viciar-se, passamos,
nós, leitores, a termos nossa lista de contatos pessoais populacionada pelos
principais personagens shakespearianos, como se eles existissem com intensidade
maior do que algumas pessoas de carne e osso (ou de bits e bites) que
conhecemos na vida real. Shakesperare, ele próprio um personagem real cercado
de mistérios tipicamente literários e aparentemente insolúveis, morreu no dia
de seu aniversário, aos 52 anos de idade, em 1616 (o nascimento, que se celebra
hoje, ocorreu em 1564). Em sua tumba, no interior de uma igreja em sua cidade
natal (Stratford-Upon-Avon), há uma inscrição que amaldiçoa quem ousar exumar
seus restos mortais. Só por isso, ela está inviolada até hoje, para desespero dos
fãs que acalentam a esperança de encontrar ali, com os ossos do bardo, alguns
originais de peças perdidas e outras nunca conhecidas. Permanece o mistério,
viceja a lenda e segue vivíssima a obra do gênio. Recomendo.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 23 de abril de 2014)
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