Nunca,
mas jamais mesmo façam aquilo que eu inadvertida e temerariamente fiz
segunda-feira passada, no centro de Caxias do Sul. Devo ressaltar que fiz não
porque quis, mas sim devido a circunstâncias que não cabem aqui explicitar.
Mesmo assim, foi perigoso, não deve ser repetido por ninguém e serve como
exemplo.
Ciente
de minhas responsabilidades de cidadão e de cronista neste conceituado jornal,
utilizo o espaço que me é aqui concedido diariamente para compartilhar essa
traumática experiência com o intuito de cumprir com meu dever cívico de alertar
aos demais quanto às terríveis consequências possíveis de um ato revestido de
perigo. Sabemos todos que vivemos em uma sociedade desigual em que a violência
infesta o cotidiano de maneira epidêmica e, para sobreviver da melhor maneira
possível, é necessário adotar medidas de proteção que afastem, impeçam ou, ao
menos, diminuam os riscos de sermos suas vítimas preferenciais.
É
por isso que gradeamos nossas casas; cravamos fechaduras triplas na pele de
nossas portas; lacramos as janelas; instalamos alarmes nas residências, nos
carros, no gato e no cachorro de raça; decoramos e esquecemos senhas de conta
bancária, de acesso ao computador, ao e-mail, ao cartão de crédito; mantemos
nas agendas dos celulares os telefones de emergência da polícia e da Brigada Militar; evitamos lugares desertos de
noite e de dia; optamos por estacionamentos pagos; circulamos com pouco
dinheiro nos bolsos; redobramos a atenção dos sentidos ao sairmos das agências
bancárias; atravessamos a rua quando identificamos perigos potenciais do lado
de lá a partir de nossos preconceitos; não aceitamos balas de estranhos;
recusamos ofertas de auxílio suspeitas e até mesmo as genuínas; negamos um copo
de água para o carteiro; deixamos soltos no pátio os rotweillers, os
pitt-bulls, os tigres, os jacarés e as plantas carnívoras; fazemos aulas de
karatê e kung-fu (pronto, denunciei a idade agora) e segue a lista.
Mas
o que ninguém ainda percebeu é o perigo estrondoso existente na atitude insana
de carregar dois sacos de grôstolis pelo centro de Caxias do Sul no início de uma
tarde de segunda-feira. Nunca em minha vida me senti tão desamparado e na
iminência de ser atacado até mesmo por aquelas três velhinhas ou pelas
raparigas adolescentes saídas da escola. Jamais, leitor, carregue grôstolis
sozinho pela cidade. É mais perigoso do que perambular desatento com a carteira
recheada à mostra. Está bem, riam. Mas depois não digam que não avisei.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 9 de abril de 2014)
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