Conquistar
uma liberdade específica é o primeiro passo no caminho da ampliação das
potencialidades de manifestação da essência humana na sociedade em que se está
inserido. Saber como usar essa liberdade atingida e o que fazer com ela é o
segundo e mais importante passo, pois é somente dessa forma que esse direito se
consolida como essencial, intocável, irrevogável, inquestionável. O mau uso de
uma liberdade abre flancos para que ela seja questionada por aqueles que estão
sempre à espreita, esperando pelas brechas que tornem possível o retrocesso.
Precisamos
estar atentos, e a responsabilidade por manter incólume a justeza de uma
liberdade conquistada cabe a todos nós enquanto conjunto social e a cada um de
nós na expressão de sua individualidade diária. A reflexão vem a calhar nesses
dias em que o calendário registra a transição de março para abril, efeméride
que, há exato meio século, carimbava na história brasileira o golpe militar que
faria descer sobre o país uma longa sombra de arbitrariedades ditatoriais cujos
reflexos deletérios se fazem sentir até hoje. Ao lado da tortura, das prisões
despóticas, do assassinato institucional, do aprofundamento da corrupção, da
perseguição política, do estupro ao Judiciário e ao Poder Legislativo, do
atropelo aos direitos constitucionais e do fomento à crise econômica, duas das
crias mais perniciosas da ditadura foram a censura e a restrição à liberdade de
pensamento e de manifestação de ideias e opiniões.
Foram
necessários 21 anos de combate à essência da ditadura para que os direitos
humanos, democráticos e fundamentais, universalmente reconhecidos como cruciais
para o desenvolvimento de uma sociedade, fossem reconquistados, ao custo de
vidas, cassações, deportações, perseguições etc. É preciso, agora, saber cultivar
e honrar esses direitos, a fim de que jamais voltem a ser alvos fáceis para a
ação dos que lucram com sua supressão.
Para
que não sejamos censurados, por exemplo, precisamos saber usar o direito de
expressão com maturidade, sapiência, discernimento, inteligência. Caso
contrário, daremos munição ao inimigo que prefere nos ver para sempre calados.
Nossa fala deve, portanto, sempre que possível, gerar diamantes. Do contrário, decidir
optar pelo silêncio às vezes pode se configurar na expressão mais inteligente
dessa mesma liberdade.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 1 de abril de 2014)
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