Cada
um com as suas fobias, já dizia uma tia minha, que não podia ver borboleta que
saía sapateando pela casa. Existem fobias esdrúxulas e fobias compreensíveis,
porém, fobias são fobias e sempre atazanam a vida de quem sofre de uma delas,
independentemente de ser enquadrável em um ou em outro grupo.
Entendo
como fobias compreensíveis aquelas que fazem as pessoas terem medo
incontrolável de pitt-bull, ou de cobra, ou de aranha, ou de político
carreirista. Já as esdrúxulas são aquelas que parecem inofensivas para a
maioria das pessoas, mas fazem algumas suarem frio, como os medos de joaninha,
de dia ímpar, de cor amarela, de letra de funk, coisas assim.
Eu,
de minha parte, venho cultivando uma crescente e irreversível fobia de
atendente de loja. Basta eu me aproximar de uma loja (para onde normalmente só
entro arrastado pelos cabelos por minha esposa, por isso que procuro mantê-los
bem curtos, os cabelos), que já começo a suar frio, a tremer o queixo, a
trolavras as pacar... quer dizer... a trocar as palavras. Tenho muito trauma de
atendente de loja.
Mas
como tenho, por outro lado, paixão pela compra de discos e livros, procuro controlar
minha fobia de atendente de loja sempre que me vejo posicionado dentro de uma
livraria ou de uma loja de discos, para onde minhas pernas costumam me conduzir
irracionalmente sempre que estou a trotear pela cidade, a despeito de minha
vontade. Procuro sempre passar despercebido para tentar vasculhar discos e
livros sem que os atendentes me vejam, mas nem sempre isso é possível, e os
encontros costumam resultar sofríveis, salvo exceções que, confesso, existem.
Semana
passada, por exemplo, vi-me dentro de um sebo de livros aqui da cidade, em
busca de um exemplar de “Os Pesos e as Medidas”, lançado em 1980 pelo ilustre
caxiense Ítalo Balen, em que retrata de forma poética e bem-humorada, em
dialeto vêneto e em português, um episódio ocorrido em Caxias na década de
1920. O jovem atendente me viu e perguntou o que eu queria. Já tremendo,
informei que desejava o livro “Os Pesos e as Medidas”, ao que ele me olhou
intrigado, querendo saber se tratava-se de livro de dieta. Corri para fora, sem
livro, tremendo.
Duvido
que um dia eu me livre desse trauma.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 25 de abril de 2014)
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