Uma
das premissas básicas da ciência é a de que suas leis, para obterem o status de
leis, precisam caracterizar-se pela imutabilidade. Ou seja: pelo menos em
ciência, lei é lei. Exemplo disso é a lei da gravidade, que puxa de encontro ao
solo tudo aquilo que teima em inventar de ficar suspenso no ar por alguns
instantes. Aviões sempre retornam para baixo (por bem ou por mal), pão com geleia
sempre despenca da beira da pia e emporcalha o chão da cozinha recém varrido e
por aí vai.
Mas
a incerteza também parece rondar as férreas leis científicas, provocando abalos
que, se não as põem por terra como aos aviões, ao menos criam brechas para a
desconfiança, o que, para o espírito humano, sempre foi uma motivação para o
avanço evolução adentro. Algumas leis, portanto, não parecem tão sólidas assim.
Exemplo disso é aquela frase famosa que aprendemos nas aulas de matemática: “a
ordem dos fatores não altera o produto”. Até pode valer para a matemática, mas não
se sustenta no interior de Otávio Rocha, quando o assunto é a caipirinha
preparada pelo atendente do bar no salão comunitário em que rola um dos
menarostos mais fabulosos da Terra.
Ali,
a ordem dos fatores altera, sim, o produto, e como! Obtive a prova científica
disso no domingo passado, quando fui, com alguns familiares, deleitar-me ao
meio-dia no evento gastronômico comunitário realizado em uma das capelas daquele
distrito de Flores da Cunha. Já abancados em nosso canto do mesão no salão,
coube a mim a tarefa de ir buscar uma caipirinha a fim de animar a espera pela
chegada da comida. Trouxe o dito drinque, porém, a ala feminina da família
achou que havia gelo de menos e minha cunhada retornou ao bar com o copo.
Enquanto esperava a reposição dos cubinhos, ela observou o método utilizado
pelo atendente para produzir as caipirinhas e retornou à mesa anunciando ter
descoberto o motivo pelo qual aquela caipirinha estava tão saborosa: o
atendente a produzia colocando os ingredientes na ordem certa, ou seja, na
mesma ordem de feitura adotada por minha cunhada, famosa na família e arredores
pela qualidade da caipirinha que sai de suas canecas.
É
claro que a ordem de colocação dos produtos altera a caipirinha. Experimente
começar tudo com a canha sem antes socar o limão com o açúcar no fundo do copo,
para ver no que vai dar. A ciência, aos menos nos domingos de menarosto, não está
com nada...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 8 de abril de 2014)
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