O
último recenseamento oficial do IBGE, de 2010, apresenta Caxias do Sul como uma
cidade de 435 mil habitantes (a estimativa para 2013 era de 465 mil). A
projeção é de que o meio milhão de almas seja atingido já em 2015, porém, o
ritmo alucinado da vida, detectado em cada esquina, em cada cruzamento do
cenário urbano e adjacências, insiste em consolidar em todos a impressão de que
esse número já é real hoje. E tudo indica que não vamos parar por aí.
Transformar-se
em uma metrópole é uma vocação que já veio impressa no DNA dessa cidade desde suas
origens, o que fica claro para quem quer que se debruce um pouco sobre os
aspectos de sua história, desde seu surgimento, passando pelas aceleradas
etapas de desenvolvimento que vêm moldando esse perfil proativo, trabalhador e
pioneiro que tanto conhecemos. Mas todas as moedas possuem dois lados e o segredo
do sucesso, como nos ensina há milênios a sabedoria ancestral, consiste na
busca do equilíbrio entre essas duas faces. Será que estamos atentos a isso?
Essa
preocupação também não é nova e permeia a atmosfera da cidade desde seus
primórdios. Uma prova disso é o teor de algumas páginas do livro “Os Pesos e as
Medidas”, de autoria do jornalista, escritor e tabelião caxiense Ítalo João Balen
(1917 – 1981), lançado postumamente no mesmo ano de sua morte. Em dado momento
da obra, Balen traz à cena o personagem Quelbel Pineto, um velho imigrante
italiano que compartilha suas filosofias com o então menino Ítalo, sentado em
uma venda na Caxias do final da década de 1920.
Pineto
diz assim: “Sabes, filhinho, a mim me aprazaria prolongar minha vida cinquenta
anos, até lá pela década de oitenta, quando o ar daqui talvez não seja o mesmo!
Quando nesta cidade – digo-o eu – não se farão mais casas de madeira – porque
os pinheiros já se foram todos – mas de tijolos, pedra ou só cimento; quando
vocês terão, em cada canto, escolas, vias, fábricas e carros e coisas que em
pensar me causam medo. E se a existência nesta nossa terra, no porvir, será
inferno ou paraíso, é algo que não sei te predizer”.
Hoje,
em 2014, já nos distanciamos quase quatro décadas além do cenário preocupante
que o personagem Quelbel Pineto profetizou ao menino Ítalo. Inferno ou paraíso
é o que construímos e estamos a moldar em Caxias? Cabe a nós, no dia a dia,
definirmos para que lado desejamos que pendam os pesos e as medidas dessa nossa
vida socializada de meio milhão de gentes.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 26 de abril de 2014)
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