Tem
vezes em que o hábito em mim arraigado, de procurar manter-me informado sobre o
que rola mundo afora, ao invés de me proporcionar aquela sensação saudável de ser
um cidadão consciente, acaba mesmo é me causando um profundo cansaço. Isso
acontece naqueles dias em que minha estrutura psíquica está mais sensível ao
ataque da sucessão de descalabros que nos atingem diariamente, disparados de
todos os lados sem nos concederem possibilidade de defesa, o que, sabe-se bem,
é um indesculpável agravante.
Hoje
é um desses dias. Folheio os jornais pela internet e vou levando golpes na boca
do estômago do meu bom senso até quase ir a nocaute (e não há técnico nenhum no
corner preocupado com o resguardo de minha integridade, pronto para jogar no
ringue a toalha e me proteger do massacre). Vou folheando e tentando encaixar
um jab de esquerda que vem de Brasília, um gancho de direita desferido de Porto
Alegre, um direto vindo direto de Caxias mesmo, um cruzado do exterior e por aí
afora. Perco rapidamente o fôlego, baixo a guarda, os golpes continuam e nada
de soar o gongo da cidadania, da seriedade, da humildade, da honestidade, da
fraternidade, da tolerância, para me salvar.
Às
vezes, a vontade que dá é de simplesmente desamarrar as luvas e pular sobre as
cordas, fugindo do ringue no qual meus escudos se mostram impotentes. Não
consegui, por exemplo, encaixar bem o cruzado direto no queixo desferido pela
notícia de que a funkeira Valesca Popozuda foi retratada como “grande pensadora
contemporânea” em uma prova de filosofia em uma escola pública no Distrito
Federal, esta semana. O professor que elaborou a prova foi quem cometeu a
barbaridade, e não algum aluno inventando resposta engraçadinha. Fui à lona.
O
golpe concluiu o estrago que vinha sendo feito há tempos em minha tolerância ao
absurdo, iniciado pelas declarações recentes do atorzinho global que
orgulhosamente afirmou não gostar de ler e nem de assistir a peças de teatro e
às do ex-presidente da República que admitiu que ler, para ele, era uma grande chatice.
Frente a esses descalabros, dá vontade de fazer como dizia o mestre cronista
Rubem Braga, décadas atrás, e passar a agir como se fosse “um sueco em
trânsito”, e “não saber de nada, não entender uma palavra do que estão dizendo
e escrevendo por aí, não ter nada a ver com nada, não se sentir responsável por
nada, não ter vergonha de nada”.
Hoje,
queria ser um sueco em trânsito. E, se possível, tocar fagote, como o Evandro, amigo
do Braga, fazia.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 10 de abril de 2014)
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