“Saiba identificar se você está
na carreira certa”. Vivendo nessa nossa época caracterizada, entre outras
coisas, pela eterna insatisfação com tudo e por uma constante busca não se sabe
exatamente pelo quê, não tem como uma matéria com um título desses passar
batida. Parei e fui lá dar uma olhada.
O primeiro passo - conforme o
especialista em carreiras e profissões entrevistado na reportagem - para identificar
se você está atuando na carreira mais adequada para a sua vida é fazer um
balanço de suas aptidões, interesses, habilidades e gostos pessoais. “Bastante
coisa para um primeiro passo”, pensei eu, que tenho aptidão para complicar,
interesse em esquadrinhar, habilidade para analisar e gosto pessoal por
refletir. “Mas vamos lá”, pensei de novo, e lá fui. Venha junto e veja no que
deu.
Puxei o pufe mais para perto,
estiquei as pernas, lancei os olhos para o teto, que é por onde costumo
observar o nada quando me ponho a refletir sobre o tudo, e fiquei ali, coçando
o queixo e imaginando que nesses momentos é que seria interessante possuir um
cachimbo. Um cachimbo ali, no canto da boca, fazendo composição com o queixo
sendo coçado logo abaixo dele, seria o elemento que conferiria um toque
literário e de classe àquela cena de eu pensando. Mas não fumo, não tenho
cachimbo, e que mania essa de divagar e me perder no meio de um pensamento.
Foco, Marcos. Retomemos.
A primeira coisa a questionar,
nesse assunto, é algo tipo assim: “será que sou mesmo feliz, será que estou a
desenvolver a totalidade de minhas potencialidades sendo o que sou, no meu
caso, jornalista e escritor?”. Para saber a resposta, procurei fazer um
exercício de imaginação e me ver desenvolvendo alguma outra atividade qualquer,
bem diferente da minha, para então tentar detectar a sensação. Eu alpinista,
por exemplo. Um gorro na cabeça, luvas poderosas, mochilão cheio de bagulhos
nas costas, suspenso em uma corda, cravando uma picareta na encosta do Monte Everest
e dando mais um passo acima, rumo ao topo, saboreando cada centímetro daquela
conquista pessoal frente aos desafios da natureza.
O fugaz sabor logo se esvai
assim que deixo cair da mão a picareta, que volteia no ar antes de quicar na
cabeça de meu parceiro de aventura que vem (vinha) logo abaixo de mim.
Atordoado com o golpe, ele se desprende da corda, o que prenuncia a tragédia. Mas
de novo devaneio. Só que devaneio certo, afinal, desastrado como sou com a
administração das extremidades de meu corpo (nunca sei o que fazer com as
antenas, as asas e a cauda), eu seria um perigo escalando montanhas. Melhor
mesmo parar com isso, levantar do sofá e ir lá escrever um texto. E nem pensar
isso de comprar um cachimbo...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 6 de junho de 2014)
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