Não tem jeito, a regra é essa e
jamais será diferente: toda a boa história sempre chega a um fim, por mais que
estejamos apreciando seu desenrolar. No cinema, as luzes vão se acender,
surgirão as letras do “The End” e você terá de se retirar da sala. Aquele
romance caudaloso, de centenas de páginas saborosas, inevitavelmente vai
conduzir os olhos do leitor para o desenlace final. Tanto o bom filme quanto o
bom livro, depois de apreciados, serão remetidos para a memória, e passarão a
fazer parte de nossas próprias histórias de vida, servindo de referência, de
amparo, tanto nas boas horas quanto nas difíceis, em que precisaremos de alento
por meio do exemplo.
Assim também se dá com aquelas
pessoas queridas que cumprem suas trajetórias de vida e depois nos deixam.
Quando são pessoas marcantes, ativas, positivas, propositivas, daquelas que vêm
ao mundo para fazer a diferença entre os que as cercam, seu passamento se
equivale ao fim de um bom filme, ao término de um bom livro. Essas pessoas
encerram suas trajetórias físicas entre nós, porém, deixam um legado infinito,
que se mantém vivo nas nossas lembranças, seguindo sua missão de fazer a diferença
entre nós, agindo como amparo e exemplo. Somos gratos a essas pessoas e felizes
por termos tido o privilégio de conhecê-las, de termos podido fazer parte de
seu mundo e por termos enriquecido nossas próprias histórias a partir do
contato com elas.
Assim se dá com a escritora e
professora Maria Helena Balen, que fechou o livro de sua história de vida
ontem, aos 76 anos de idade completados apenas três dias antes. Era minha
amiga, colega da Academia Caxiense de Letras (entidade que chegou a presidir),
patrona da Feira do Livro que me antecedeu e me passou a honraria, parceira no
compartilhar a alegria de ler, de escrever, de cronicar e de viver. Como todos
os que a cercavam, vou sentir falta do seu bom humor, de seu abraço generoso, do
estilo elegante de seu texto, da sensibilidade que se ampliava à medida da
moldagem da sabedoria que extraía do pensar a existência, da conversa amiga, do
exemplo vívido da participação ativa em seu meio, da percepção que tinha da
importância de se importar.
Maria Helena Balen vai fazer
falta. Vai fazer aquela falta impreenchível que fazem as pessoas raras e
iluminadas, generosas e partilhadoras de vida. E, como fazem as pessoas como
ela, encontraremos conforto para essa falta na lembrança daquilo que elas foram
e de todo o legado humano que nos deixaram. Maria Helena, você foi um dos
livros mais belos que já tive a oportunidade de ler. Obrigado.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 26 de junho de 2014)
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