Aos poucos, o cenário
verde-amarelo vai se avolumando pelas ruas e calçadas da cidade. Agora sim,
faltando três dias para a abertura da competição sediada no nosso país, dá para
dizer que o “clima de Copa” começa a surgir. Funcionários de uma loja vestem-se
com as cores da bandeira nacional; bandeirinhas verdes e amarelas enfeitam a
fachada de empreendimentos comerciais e os quintais de algumas casas; bandeiras
do Brasil começam a ser estendidas nas janelas dos apartamentos. Sim, começamos,
enfim, a respirar Copa.
Mas por que razão demorou tanto
para que isso acontecesse? Será que até nesse quesito a tão propalada mania do
brasileiro em deixar tudo para a última hora se manifesta, ou o furo será mais
embaixo? Eu acho que é questão de furo mais embaixo, sim, porque o brasileiro
até pode ser desligado e desorganizado em muitas coisas, mas jamais em função
do futebol, essa sim, a paixão nacional incontestável. O brasileiro chega
atrasado a reuniões importantes, aos encontros marcados de qualquer natureza,
ao início dos espetáculos culturais, aos jantares, às solenidades, à cerimônia
de casamento (dos outros e de seu próprio), a tudo. Menos às partidas de
futebol.
Pode ver: em dia de jogo, a
movimentação dos torcedores em torno dos estádios tem início muitas horas antes
do começo da partida. Ninguém quer chegar atrasado ao jogo. Até porque, é
preciso chegar antes para poder xingar o juiz em sua entrada em campo, já que
xingar também faz parte da cultura nacional, como bem temos visto por aí
ultimamente. Portanto, como vemos, a razão pela demora no desfraldar das
bandeiras verde-amarelas e da adoção do “espírito da Copa” por parte dos
brasileiros deve ter outro motivo.
E eu acho que sei qual é. Ao
menos, tenho lá meu palpite, uma vez que também nessa coisa de palpites nós,
brasileiros, somos feras. O meu palpite é de que demoramos para embarcar no
espírito da Copa porque, até agora, tínhamos mais o que fazer. Afinal, somos
brasileiros, somos trabalhadores, nada cai de graça no nosso colo. Se não somos
criminosos e nem corruptos (e a maioria de nós não é, felizmente), precisamos
trabalhar duro para ganhar a vida, uma vez que somos achacados o ano todo pelos
impostos extorsivos, pela inflação dissimulada, pela precariedade dos serviços
públicos essenciais, pelos problemas no transporte e na saúde, pela falta de
segurança, por todas essas questões que fazem o dia-a-dia dos brasileiros se
parecer com uma corrida de obstáculos.
Mas, agora, faltando pouco para
o início do espetáculo, entramos, sim, no clima da Copa e vamos torcer pelo bom
desempenho da Seleção Brasileira. Porque somos brasileiros. Nada nos cai de
graça no colo, mas podem contar sempre conosco. Vamos lá, queremos o hexa.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 9 de junho de 2014)
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