Ah não! Agora essa! Notícias
apavorantes circularam esta semana nos sites dos jornais, aventando a
possibilidade de, em um futuro próximo, acabarem-se as reservas de chocolate no
planeta! Que coisa terrível! Nervoso após ler a ameaça, passei a madrugada
insone, com dor de barriga, por ter devorado sozinho uma caixinha de Bis Lacta,
ansioso que fiquei.
E quem avisa da iminente
tragédia são justamente as indústrias chocolateiras, impressionadas com o ritmo
do aumento do consumo de chocolate ano a ano no planeta. Andamos devorando tanto
chocolate, com tanta avidez e alegria, que a indústria não está mais dando
conta e as plantações de cacau estão se vendo pequenas frente a tanta demanda.
Anos atrás, na década de 1980, surgiu no mundo a paranoia de que o petróleo
iria acabar porque se tratava de um recurso natural não renovável. Ora,
passaram-se três décadas, o número de veículos rodando pelo planeta só fez
aumentar e ninguém fala mais em perigo de fim do petróleo. Até porque, trata-se
de um combustível fóssil, tem origem nos restos de dinossauros sedimentados no
fundo dos oceanos e, pelo que eu saiba, o que não falta é arqueólogo
desencavando ossinho de dinossauro por todos os cantos do mundo, o tempo todo.
Cada fêmur de tiranossauro-rex encontrado é um litro de gasolina a mais no meu
Opalão.
Mas com o chocolate a coisa é
mais amarga. Se ninguém plantar mais cacau e continuarmos a devorar sem
parcimônia os Chokitos, Prestígios, Sensações e Sonhos de Valsa, o leite vai
azedar rapidinho. Um mundo desprovido de chocolate é inimaginável. Tão grave,
na minha concepção, quanto um mundo desprovido de mico-leão dourado, de
baleias, de tigres-de-bengala e de pessoas gentis, essas coisas todas que
sabemos que andam em franco processo de extinção. Suportaríamos até mesmo um
mundo desprovido de petróleo, pois retornaríamos ao transporte por carroças, a
pé e de carrinho-de-mão (os mais novos empurrando os mais velhos, já vamos
combinando agora). A energia para isso? Ora, tiraríamos das indispensáveis e
vitais barras de chocolate, que não podem, não podem, não podem acabar.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 22 de novembro de 2014)
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