O susto se deu logo ao dobrar a
esquina. Não poderia imaginar que uma surpresa dessas estaria atocaiada pelas
tranquilas ruas do bairro, à espreita, durante uma curta caminhada no meio da
tarde rumo ao mercadinho, a fim de dar uma pausa mental na trabalheira do dia e
buscar um lanche. O ritual de espairecer observando o pulsar da vida cotidiano
ao redor foi chacoalhado pela imagem que vi de súbito no quintal da casa de um
vizinho: uma guirlanda natalina cravada na porta da frente! Nossa, que susto!
Então já é Natal! Quase Natal,
na verdade. Foi-se o ano; foi-se o Carnaval; foram-se Páscoa, Dia das Mães, dos
Pais, das Crianças, dos Avós. Foi-se a Copa do Mundo, foram-se as eleições,
foi-se a Feira do Livro de Caxias. Foram-se os aniversários (ainda há alguns
deles pela frente, bem lembrado), foram-se as dívidas velhas e vieram as novas,
foram-se os salários e os ganhos, foram-se as folhinhas do calendário e da
agenda, foram-se os dias e os dias, as horas, os minutos, foi-se o tempo voando
e, num piscar de olhos, ao ressurgirem nas portas das casas as guirlandas de
Natal, foi-se mais um ano.
Sim, que susto aquela guirlanda,
mas especialmente o recado advindo dela. Nesses tempos de imediatismo e de
tudo-para-ontem, os enfeites de Natal vão saindo das caixas cada vez mais cedo
e alguns apressadinhos já estão ornamentando suas moradas nem bem terminado
outubro. Eu, tradicional que sou em certas coisas, sigo partidário de que o
espírito natalino só se aposse de mim em dezembro, apesar de já ter participado
do sorteio do amigo secreto familiar, já ter retirado meu papelzinho e estar há
semanas queimando pestanas para ver se descubro o que comprar para meu
presenteado, já que, nesse caso, não posso contar com a crucial ajuda da esposa
para a tarefa. Afinal, é segredo.
Já o que não é nenhum segredo é
esse empilhar de anos que vão cruzando pela gente em velocidade sempre maior à
medida em que amadurecemos (sim, evitei o “envelhecemos” de propósito). Afinal,
o tempo sempre é um bom assunto. Tanto o tempo que passa quanto o tempo da
meteorologia. Em comum entre eles, essa velocidade dos ventos...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 8 de novembro de 2014)
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