Para vocês verem como são as
coisas. Até dois dias atrás, eu sequer sabia da existência do papa Hilário.
Isso, por pura e absoluta ignorância minha. Hoje, transformei-me em um fã
incondicional do papa Hilário, e vou explicar a razão.
Vamos lá. O papa Hilário nasceu
na Sardenha (uma ilha mediterrânea autônoma, ligada à Itália) no ano de 415 d.C.
Sagrou-se papa em 19 de novembro (hoje é 19 de novembro, sacaram?) de 461d.C. e
morreu sete anos depois. Foi o 46º papa da Igreja Católica e, apesar desse
curto papado, deixou marcas importantes na história da Igreja e também na da
civilização ocidental. A principal de suas realizações foi a ordem que baixou,
estabelecendo que, para que a pessoa fosse sagrada sacerdote, era preciso que
ela possuísse uma sólida e consistente formação cultural. Além disso, determinou
que pontífices e bispos não poderiam mais escolher diretamente seus sucessores,
passando essa atribuição a colegiados.
Em resumo, Hilário, que de
hilariante não tinha nada, preocupou-se em estabelecer critérios para o
ingresso de representantes da Igreja na Igreja e, junto a isso, ocupou-se em
eliminar o nepotismo e as indicações puramente pessoais para cargos vitais de
comando da instituição. Colocou ordem na casa, mas uma ordem calcada na
sobreposição do mérito, do preparo, do estudo, da competência, da qualidade.
Ponto para o papa Hilário, por ter tido, lá na Idade Média, percebido que uma
instituição só sobrevive se for gerenciada por profissionais.
Eu não seria ingênuo de afirmar
que a história posterior da Igreja seguiu à risca a determinação instituída por
Hilário, mas o que me chama a atenção é a essência do que ele propôs. Estava
correta a visão do papa Hilário. Tão correta que segue sendo atual e
moderníssima nos dias de hoje, em que empresas, governos e instituições que
teimam em se gerenciar por meio do nepotismo, do compadrio e da valorização da
mediocridade, acabam naufragando em meio a um atoleiro de desgraças plenamente
evitáveis se agissem diferente.
Nessas horas, quando desaparece
o motivo para o riso, é que se deveria evocar os ensinamentos do papa Hilário.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 19 de novembro de 2014)
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