Havia lá em Uvanova (Uvanova
vocês já sabem, né, é aquele lugarejo de colonização italiana, encravado no
alto da Serra gaúcha, limítrofe às cidades de Tapariu e Vila Faconda) um
pescador que era muito conhecido pela sorte que tinha com os peixes. Todos os
dias ele encilhava sua mulinha bem cedo de manhã, se o tempo estivesse bom, e
seguia rumo ao Rio das Antas, em um local ali que só ele conhecia, de onde
voltava à noitinha com a sacola repleta de peixes. Alguns serviam para
alimentar a família e a sobra era comercializada entre a vizinhança, rendendo
vitais fiorins para seu bolso.
O pescador se chamava Luigi ou
Levídeo, não recordo direito. Todos o conheciam em Uvanova e sempre compravam
seus peixes, fresquinhos, graúdos, saborosos para comer ensopados e acompanhados
de polenta mole, uma delícia local. Mas qual era o mistério, qual era o segredo
que fazia com que o pescador Luigi (ou Levídeo) conseguisse pescar tantos
peixes e nunca voltar de mãos vazias?
Passadas décadas, sabe-se hoje
que não havia mistério nenhum. Levídeo (ou Luigi) simplesmente acordava, tomava
sua xícara de café com leite preparada pela esposa, comia uma fatia de pão com
rodelas de salame e formaggio e botava-se com a mula rumo às Antas. Lá
chegando, arregaçava as mangas e começava a trabalhar. Primeiro, capinava a
terra úmida e fofa das margens do rio, à cata de minhocas. Achava as minhocas,
separava-as em uma latinha e ia preparando as iscas. Enfiava uma minhoca graúda
em cada anzol e minava a margem daquele cantinho do rio com suas linhas.
Aquilo dava trabalho, muito
trabalho. Aprendera as técnicas de pescaria desde muito cedo, com seu pai, e
fora desenvolvendo e aprimorando o ofício ao longo dos anos. Sempre com muito
trabalho, sempre com muita dedicação, sempre com muito esforço, sempre com
perseverança, sempre à custa de muito suor. Esse era o mistério, esse era o
segredo. Os peixes não pulavam de graça dentro de sua sporta. Eram fruto de
trabalho, de muito trabalho. Luigi (ou Levídeo) era uma metáfora ambulante a
ser pescada por quem tivesse olhos para ver. E segue sendo.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 27 de novembro de 2014)
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