A sensação do momento em Porto
Alegre parece que é sair correndo pelado pelos parques e avenidas da cidade.
Tudo começou quando, semanas atrás, uma moça portadora de problemas
psiquiátricos livrou-se das vestes e saiu a correr nua pelo Parcão até ser detida
pela Brigada Militar e a família chamada para socorrê-la. Bastou a notícia
circular para que alguns resolvessem imitar o ato para fins de promoção
pessoal.
E pimba, deu no que deu: pelados
e peladas a saírem correndo livres, leves e soltinhos pelas quebradas da
capital dos gaúchos. Está quase se transformando em atração turística (ao
menos, enquanto forem razoavelmente belos os corpos dos praticantes da nova
onda). Afastada do litoral por uma longa freeway, banhada por um rio que na
verdade é lagoa e municiada com praia somente em nome de rua, Porto Alegre
começa a ser invadida por seres desenroupados que parecem ter escapulido faceiros
de alguma praia de nudismo, determinados a irem exibir suas peles e curvas em
plena área urbana, à luz do dia. “O tempora, o mores” (“ó tempos, ó costumes”),
como exclamaria o orador romano Cícero (106 a.C – 43 a.C.) ao abordar no Senado
a decadência dos hábitos dos cidadãos em sua época.
Eu preciso ir a Porto Alegre
neste final de semana e, de antemão, já estou preocupado. Altamente
impressionável e influenciável como sei que sou, vai que, ao adentrar os
domínios da capital, eu me surpreenda sendo invadido por essas aragens nudistas
que andam soprando do Guaíba para dentro daquelas urbanidades e... pimba também
eu! Hein? Olha, leitor amigo, te digo: isso não iria acabar bem. Andei dando
uma verificada com atenção no conjunto geral hoje pela manhã na hora do banho e,
francamente, estou longe de propiciar aos porto-alegrenses, avisados e
desavisados, um espetáculo estético de primeira grandeza com minha eventual
nudez.
Sem falar que essa coisa de
andar pelado, no meu caso, só funciona no trajeto entre o quarto e o chuveiro,
em mão dupla. Fora isso, não ter bolsos onde esconder minhas tímidas mãos e
onde ancorar o celular e a carteira, está fora de questão. Não, eu não. Durmam
todos tranquilos.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 14 de novembro de 2014)
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