Clara é o nome de uma jornalista
de cerca de 25 anos, solteira, desempregada, que anda vivendo uma crise pessoal
sem precedentes. Tentando reorganizar os cacos de sua vida dilacerada, cujas
pontas se agudizam com a ruptura recente com um namorado, Clara está
mergulhando em um turbilhão caótico de eventos que só fazem piorar à medida em
que vamos conhecendo mais intimamente os detalhes de sua vida. Caos e farsa são
os elementos que parecem predominar ao seu redor.
Fora o fato de também ser
jornalista, não possuo nada em comum (ao menos, em uma primeira análise) com
Clara. Às vezes, quanto mais a conheço, chego até a pensar que somos de
espécies diferentes. E conheço-a muito bem, por sinal. Tão bem a ponto de
elencar outro aspecto no qual diferimos eu e ela profundamente: eu sou real,
enquanto que ela é fruto de minha imaginação. Eu criei Clara, mas Clara me
impressiona, me intriga e me surpreende.
A mais recente grande surpresa
que ela me proporcionou ocorreu na noite de segunda-feira quando, no Teatro
Renascença, em Porto Alegre, ela foi responsável por me fazer conquistar a
maior premiação que já obtive em minha carreira literária. Clara é a
protagonista de meu romance “A Sombra de Clara”, contemplado com o Prêmio
Açorianos de Criação Literária, categoria integrante do mais renomado prêmio
literário gaúcho, destinada a publicar obras ainda inéditas. O livro já está em
fase de pré-produção (contrato assinado e tudo) e virá a público na Feira do
Livro de Porto Alegre no ano que vem.
O desafio que me impus na
produção desse texto foi assumir a voz narrativa e a visão de mundo da
personagem, uma vez que é Clara quem conta a sua história ao leitor, do seu
jeito, em seu estilo próprio, a partir de suas próprias convicções. Parece que
funcionou, porque os jurados me confessaram que, ao ler o livro, juravam que
ele tinha sido escrito por uma autora feminina. “Você deve conhecer muito bem
as mulheres”, disseram-me os jurados. Não sei, penso eu. Conheço bem Clara.
Quer dizer, Clara é um mistério em si mesma, que cabe aos leitores tentarem
desvendar.
Calma, novembro de 2015 está
logo aí. Desde já, todos convidados para a sessão de autógrafos.
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