Nem sempre há poesia em um
poema. Deveria haver, mas nem sempre há. Também não é somente dentro dos poemas
que pulsa a poesia. Ela pode escolher como habitat o mundo inteiro,
especialmente as pequenas coisas do mundo. Poesia pode haver no voo errante de
um inseto, no entardecer em qualquer lugar, nos olhos de quem vê, nos ouvidos
de quem escuta, no coração de quem vive, no cimento da construção, nas linhas de
um secreto diário íntimo, nos risos, nas lágrimas. Até mesmo nos poemas.
Quem ensina isso com propriedade
(e com poesia) é o professor e poeta caxiense Jayme Paviani, que, aliás,
conversará sobre temas poéticos na segunda-feira, dia 17, a partir das 20h,
dentro da programação do Grupo Órbita Literária, na Livraria e Café Do Arco da
Velha (Rua Dr. Montaury, 1570), com entrada franca. Lembro essas coisas porque
andou me caindo a ficha de que a poesia está se transformando em um poderoso
auxiliar na busca pela sanidade humana nesses tempos tão duros, conturbados,
ansiados e violentos que vivemos. Podemos não perceber, mas estamos precisando
de grandes cargas de poesia dentro de nós para recarregar nossas energias
vitais e prosseguirmos firmes nessa saga que é vivermos nossas vidas.
E viver a vida sem poesia nos
enfraquece, fragiliza, desequilibra, endurece. Se endurecidos, vamos à batalha
da vida desprovidos do jogo de cintura psíquico que uma alma plena de poesia
consegue proporcionar. E sem jogo de cintura a gente dança. Precisamos de doses
diárias de poesia, não apenas dessa poesia contida nos poemas dos poetas. Precisamos
de poesia na vida, precisamos treinar nossos sentidos para que eles se
transformem em anzóis pescadores da poesia que há no ar, já que ela não é
vendida em cápsulas.
O Brasil perdeu esta semana um
de seus maiores semeadores de poesia, o mato-grossense Manoel de Barros. Ele
pegava a pinça de sua alma e extraía gravetos de poesia das pedras, dos rios,
dos grilos. Semeou no mundo a poesia que germinava dentro dele. Compartilhava
generosamente sua alma poética. Um grande mestre da vida. Também temos os
nossos por aqui. Aprendamos poeticamente com eles.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 15 de novembro de 2014)
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