Aconteceu assim: tempos atrás,
minha esposa e eu decidimos que já estava na hora de adquirirmos uma geladeira
nova, que substituísse à altura e com avanços os serviços até então prestados
pela antiga geladeira que já ia se segurando aos trancos passados dez anos de
uso. Confesso que relutei antes de efetivar a troca, porque sei lá, tenho em
mim essa coisa de me apegar a alguns objetos que me prestam serviços fielmente,
como a geladeira, o fogão, o sofá, a tevê, essas coisas. Parece que Freud
explica, mas há coisas que é melhor nem tentar entender, deixa prá lá.
Assim foi que consegui então
admitir a sessão desapego em relação à geladeira e passamos a visitar lojas e a
consultar sites na busca por um eletrodoméstico mais moderno, amplo, com visual
mais vistoso e repleto de funções. O grande ganho, na verdade, seria o freezer
com portinha separada da geladeira em si, diferentemente da anterior, com
aquele espacinho acanhado que mal conseguia abrigar um pote de sorvete
napolitano e uma costela congelada presenteada pelo sogro depois de carnear
mais um boizinho. Procura dali, compara preço de lá, olha, analisa, pensa,
argumenta e pronto: encontramos a geladeira ideal, construída para atender aos
nossos sonhos.
E a mudança toda já começava
pela forma de chamar a coisa. “Geladeira, não: refrigerador”, passou me
ensinando a esposa, toda faceira, enquanto desempacotávamos o novo habitante da
cozinha. E olha só: repleta de luzinhas na porta que indicam as funções de
gelar rápido, turbo freezer, relógio e sei lá quais mais traquitandas. Foi botar
o treco a funcionar que me curei rapidinho da nostalgia que ainda queria sentir
pela velha geladeirinha que passando adiante e foi fazer a alegria de outras
pessoas em outro lar, no qual certamente foi também muito bem acolhida.
Só que estou decepcionado! Com o
calor intenso da última semana, achei que a única solução seria me abrigar uns
minutinhos dentro do freezer, mas só coube um de meus braços até o cotovelo lá
dentro. Sim, certo, nem tudo é perfeito, mas que fiquei chateado, fiquei. Esse
calor, realmente, não me faz muito bem...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 3 de novembro de 2014)
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