Ralei-me, minha esposa descobriu
tudo. Andei meses tentando camuflar, esconder, dissimular e agora, por um
descuido estúpido, em questão de segundos, foi-se tudo por água abaixo. A
reação dela, claro, óbvio, lógico, não poderia ser outra: primeiro, gritou aquele
atemorizante “aháááá”, que a gente daria tudo para jamais escutar; depois,
cravou as duas mãos na cintura, uma de cada lado, adotando aquela postura de
xícara balançante, sacudindo desaprovadoramente a cabeça; e, por fim, sacou da
cintura a mão direita e me apontou para a cara o dedo indicador em riste, como
a xerifa que saca a pistola para fulminar o bandido pego de surpresa no ato
espúrio. No caso, o bandido da história sou eu, como o leitor atilado há muito
já percebeu.
Bang! Fui fulminado e pego em
flagrante delito. Não havia o que dizer, o que declarar, desculpa esfarrapada
que fosse capaz de reverter a situação claríssima. Negar? Mas como negar? Os
fatos falavam por si e eu ainda estava em minha posição suspensa no ar, como
que congelado dentro da cena do crime com o candelabro na mão no salão de
festas a espancar o Senhor Ninguém. Sim, era eu e eu tinha feito o que estava
há muito fazendo. Não havia salvação, não havia escapatória, nenhuma palavra ou
frase seria capaz de me redimir. Só me restava assumir a falta do alto da
hombridade que ainda me restava e esperar que houvesse perdão.
Mas antes do perdão, foi preciso
aguentar no osso do peito, firme e calado, a flauta. E que flauta! “Aháá”,
começou ela (eu disse que o “aháá” dela é matador) e prosseguiu, chacoalhando o
dedinho cada vez mais próximo da ponta de meu nariz. “Quer dizer então que é
assim que o senhor vem camuflando o seu peso na balança, me dizendo que vem
emagrecendo, é? Nada disso, coloca os pés direito, inteirinhos, sobre a balança!
Agora sim! Esse é seu peso verdadeiro, e não aquele, dois quilos a menos,
ficando só com os calcanhares na balança, seu aprontão!”.
Pois é... E eu achando que
descobrira o segredo de como diminuir peso, subindo só com metade dos pés na
balança. Mas pô, amor... Eu não estou preparado para o peso da realidade!!!
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 12 de novembro de 2014)
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