Estranha essa tendência que boa
parte das pessoas tem de gastar energias reclamando de seus problemas, ao invés
de direcionar esse esforço para as soluções. Na maioria das vezes, pequenas
parcelas desse empenho já seriam suficientes para desemaranhar as questões que
as incomodam, mas não: preferem passar ao largo da atitude proativa que transforma
o entorno para permanecerem atoladas no mar das lamúrias, dos ataques, da raiva
grosseira, da purgação verborrágica de suas insatisfações. Estranho.
Não é difícil verificar essa
atitude ao redor. Basta dar uma olhadela e já é possível detectar ali um
choramingas convicto, agarrado a um poste de lamúrias, reclamando do chefe, do
colega, do marido, da esposa, do (da) namorado (a), dos pais, dos filhos, dos
amigos, do prefeito, do presidente, do mundo, da chuva, do sol, e pipipi e
popopó e mimimi. Vejo e fico me perguntando a razão pela qual o dito chorão não
vai lá e enfrenta o chefe, externando a ele suas insatisfações e suas
observações? O tempo e a energia dispensados reclamando, posso assegurar, são
infinitamente menores do que o esforço necessário para enfrentar e solucionar a
situação. Mas quem opta pela alternativa B? Poucos. Raros.
A tendência, no geral, é adotar
a máxima do repasse do abacaxi. Mas isso fica realmente estranho quando as
pessoas resolvem passar para você os abacaxis que são estritamente delas,
criados por elas, decorrentes de demandas que são delas. Mas decidem que é você
quem precisa resolver. É a materialização da tendência cultural de que os
problemas devem ser resolvidos pela Providência e que nós, indefesas
criancinhas, temos o direito de receber tudo solucionado dentro de nossos
biquinhos de passarinhos abertos no ninho, esperando a minhoca que cai do céu.
De braços cruzados e roncando grosso
do alto da colina, esperam que alguém faça por eles. Ah, e são cientes de seus
direitos, possuem claríssimas as ideias de como acham que as coisas devem ser,
mas não lhes peçam para trabalharem por elas. As soluções que se materializem a
seus pés ao sabor de seus desejos. E assim segue adiante a nau dos insensatos.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 6 de novembro de 2014)
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