Sob o título “O Último
Trem de Hiroshima”, o escritor norte-americano Charles Pellegrino relata a
história real e fantástica de um grupo de pessoas que sobreviveu à explosão da
bomba atômica lançada pelos Estados Unidos sobre Hiroshima, em 6 de agosto de
1945, ao final da Segunda Guerra Mundial. O destino transformou essas pessoas
em um caso especial porque elas, no dia seguinte à explosão, embarcaram em um
trem que as levaria para longe daquele cenário de horror. O destino era a
cidade de Nagasaki, a 300 quilômetros dali.
Chegaram e, no dia
seguinte, em 9 de agosto, a segunda bomba atômica era despejada justamente
sobre Nagasaki. Dos trinta viajantes vindos de Hiroshima naquele trem, meia
dúzia sobreviveu à segunda explosão. Leio o livro e acompanho os relatos desses
inimagináveis personagens reais sem conseguir decifrar se eles representam o
grupo de pessoas mais azaradas ou as mais sortudas da história do mundo. Mas
entre todos os relatos, um em especial me chama a atenção.
Trata-se da história da
menina Sadako Sasaki, que tinha dois anos quando saiu viva da explosão em
Hiroshima (ela não integrou o comboio que rumou a Nagasaki). Os efeitos da
radiação atômica começaram a se manifestar em seu organismo no início de 1955,
quando ela tinha 12 anos, na forma de uma agressiva leucemia. Desenganada, foi
internada no hospital de Hiroshima em março de 1955, lutando diariamente contra
a dor e contra a morte iminente. Após a visita de uma amiga, aprendeu a fazer
origamis em forma de garças de papel (chamados “tsurus”) e conheceu a lenda dos
mil tsurus, que diz assim: se você fizer mil dobraduras de pássaros em papel,
ao final, terá direito ao maior desejo de sua vida.
Imediatamente, Sadako
passou a produzir tsurus em seu leito no hospital, acalentando um desejo
secreto. Com o passar do tempo (que lhe era escasso), foi aumentando o grau de
complexidade de seus tsurus, revelando ao final que o número de tsurus não
importava, mas, sim, deveria era colocar toda a essência de sua alma na
confecção de cada um deles.
Sadako morreu em
outubro de 1955, após ter confeccionado cerca de 660 tsurus. Seu irmão revelou
depois que o desejo dela residia em um mantra pessoal resumido pela palavra
“omoiyari”, que significa: “em seu coração, sempre pense na outra pessoa antes
de você”. Ela acreditava que, se todos adotassem esse mantra, não haveria mais
guerras nem bombas atômicas no mundo. E que o caminho para isso era cada um
adotar o mantra começando pela sua atitude em relação às pessoas mais próximas.
Até porque, o fundamental é, antes de tudo, tentarmos desarmar a bomba atômica
que às vezes reside dentro de nós mesmos.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 19 de março de 2014)
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