Quando
eu era criança pequena lá na cidade de Ijuí, onde nasci 9.953 anos atrás,
tínhamos um cachorro de estimação que não batia muito bem da cabeça,
assemelhado que era ao seu principal dono, este que vos relata o feito nestas
mal traçadas - mas bem impressas - linhas. Cruza de vira-latas com pequinês,
tinha pelo de coloração amarelada e chamava-se UFO, o que, por sinal, já dá uma
noção de como era a coisa.
UFO
vivia solto no amplo pátio da casa e gostava de pregar sustos nos passantes da
calçada lá no canto da cerca. Às vezes, quando encontrava o portão do pátio aberto,
escapulia e perambulava livre pela vizinhança a seu bel prazer (e para o bel
desprazer de alguns vizinhos que não gostavam de suas turbulentas
visitas-relâmpago), retornando logo depois, a fim e relatar suas averiguações
para Balú, o cão-ancião da casa, um fox que já contava lá seus 15 anos bem
vividos e toneladas de ossos enterrados.
Certo
dia, bateu a bobeira no UFO e ele largou-se a perseguir o carro da família, numa
tarde em que saímos rumo ao clube, situado fora da área urbana, para a aula de
natação, na qual eu costumava engolir metade da água da piscina. A presença de
UFO correndo atrás do Corcel, língua de fora, olhos esbugalhadas e patas para
que te quero, comendo poeira, foi detectada somente umas dez quadras depois,
pelo meu pai, via espelho retrovisor. Ficamos apreensivos com aquilo, pois UFO
jamais circulara tão longe de casa e poderia se perder. Como retornaria?
De
repente, UFO perdeu o fôlego numa curva e foi ficando para trás, sumindo-se na
poeira de terra vermelha daquelas plagas ijuienses. A dor em nossos peitos só foi
dissipada horas depois, quando retornamos para casa e lá estava UFO, deitado em
frente ao portão, a nos sorrir latindo. Afinal, UFO era um cachorro, e
cachorros sempre retornam para o lugar a que pertencem.
Fico
pensando nisso nesta manhã em que subo na balança depois de dez dias de férias
e descubro que os quilos perdidos nas dietas são exatamente iguais aos
cachorros de estimação: eles sabem muito bem como retornar rapidamente para o
lugar a que imaginam pertencer (neste caso, minha cintura e o entorno de meu
umbigo). Os quilos extras e os cachorros são ossos duros de roer: não comem
poeira e nem se perdem fácil pelas curvas da vida.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 22 de março de 2014)
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