Aniversário é aniversário e
existem demandas e rituais que devem ser cumpridos independentemente de quem
quer que seja o aniversariante. A lista de demandas vai se avolumando à medida em
que algumas decisões vão sendo tomadas, em uma verdadeira corrente de tarefas
que resultarão, se tudo der certo, em uma celebração à altura do homenageado.
Partindo-se do pressuposto de
que haverá comemoração, é fundamental que haja bolo. E não um bolo qualquer,
mas sim um bolo de aniversário. Hoje em dia, o usual é dirigir-se até a
confeitaria mais afamada e adquirir um bolo já prontinho, que espia você ali do
balcão, pronto para ser levado até a residência do aniversariante e disputar
com ele as atenções da festa. Nos tempos de antanho, as famílias sempre eram
bem servidas de moças e senhoras doceiras de mãos cheias (mães, avós, tias,
cunhadas, irmãs), que se encarregavam de construir bolos em suas próprias
cozinhas, personalizadíssimos e inesquecíveis. As coisas mudaram bastante, mas
um bolo de aniversário segue sendo um bolo de aniversário, e a presença dele é
sempre fundamental.
E se vai haver bolo, então é
preciso providenciar também as velinhas. E não velinhas quaisquer, mas velinhas
de bolo de aniversário, dessas em formato de números, que apagam e acendem
(para desespero do fôlego do aniversariante), porque senão não tem graça
nenhuma. Sendo assim, alguém precisa encarregar-se do bolo, outro dos convites,
outro dos demais comes, outro dos bebes, outro do local, e as tarefas vão sendo
repartidas. À minha irmã coube, ano passado, a incumbência de comprar as
velinhas. Dirigiu-se à loja de artigos para festa, entrou, começou a vasculhar
a seção de velinhas. Queria duas, uma de cada número, e com as cores
combinando. Aproximou-se a vendedora com ar solícito e perguntou à minha irmã
quais os números de que ela precisava.
“Um zero e um nove”, respondeu
minha irmã.
“Ah”, emendou a solícita
atendente: “e é menino ou menina?”, quis saber, para definir as cores das
velinhas.
“É para meu avô. Um menino que
vai completar 90 anos amanhã”, explicou ela.
Afinal de contas, tudo é uma
questão de ponto de vista. A começar pelo ângulo de duas velinhas sobre um bolo
de aniversário.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 11 de março de 2014)
Nenhum comentário:
Postar um comentário