Eu
não estava em Caxias do Sul: estava em Uvanova. Eu não estava na minha casa:
estava na casa dos sogros, em Uvanova. Eu não estava no meu quarto: estava em
um dos quartos da casa dos sogros, em Uvanova. Eu não estava frente ao meu
guarda-roupas nem frente à minha cama: estava frente ao guarda-roupas e à cama
em um dos quartos na casa dos sogros, em Uvanova.
Como
podem ver, eu estava completamente fora do meu ambiente natural, no qual
consigo me vestir direitinho até de olhos fechados. Naquela ocasião, defronte
ao guarda-roupas e à cama em um dos quartos na casa dos sogros, em Uvanova, eu
estava de olhos bem abertos, é verdade. Porém, faltou luz. Faltou luz e eu
tinha de me vestir rapidamente, pois era padrinho de casamento de alguém da
família e, para adiantar serviço e evitar trapalhadas (de minha parte, claro),
a esposa já havia organizado as roupas que eu deveria vestir depois do banho,
sobre a cama (aquela cama ao lado do guarda-roupas existente em um dos quartos
na casa dos sogros, em Uvanova). Bastava eu, em resumo, botar as calças, vestir
a camisa, as meias, os sapatos, o cinto e deu.
Só
que faltou luz, tá ligado? Bem na hora em que eu iria começar a me vestir.
Mesmo sendo dia, o ambiente escureceu bastante. Porém, havia uma penumbra que
me permitiu colocar as calças, a camisa e o pacote todo, e me fui para a sala,
onde o sogro já aguardava e para onde rumavam os demais membros da família à
medida em que iam também se aprontando. Assim que minha esposa surgiu e me
olhou, foi acometida por um mastodôntico e incontrolável acesso de riso que
passou a esculhambar sua maquiagem. Apontava para mim e ria à larga. Mesmo sem
saberem o motivo daquela graça, os outros me olhavam e também riam, já que não
é difícil cair no riso em olhando para mim com atenção, sei disso, já estou
acostumado.
O
mistério se desfez quando ela finalmente conseguiu dizer que eu havia me
enganado e vestido as calças de meu sogro ao invés das minhas e estava lá, todo
pimpão, pronto para apadrinhar casamento. Detalhe: meu sogro é bem mais magro
do que eu. Bem que eu senti, ao fechar o botão da calça, a necessidade de dar
uma profunda inspirada de ar e murchar a barriga, mas calças encolhem, não é
mesmo?
Essa
foi a prova do quão difícil costuma ser a gente se colocar no lugar dos
outros...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 31 de março de 2104)
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