Comemorou-se nos
últimos dias a passagem dos 25 anos da criação do conceito que viria a se
transformar na internet, essa ferramenta tão crucial para a vida humana
civilizada da atualidade. O projeto surgiu em março de 1989 e, pouco a pouco,
foi conquistando o planeta e se transformando nessa imensurável rede de
informações que interconecta a todos, sem a qual não conseguimos mais conceber
sequer a existência do mundo e da vida humana como hoje a conhecemos.
Mas nem sempre foi
assim, e quem tem mais de 35 anos de idade sabe muito bem que a revolução
ocasionada no cotidiano das pessoas foi mais profunda e ampla do que é possível
conceber, passados todos esses anos que, a bem da verdade, não são tantos
assim. Em 1989 eu dava início à minha carreira oficial como jornalista, em meu
primeiro emprego com carteira assinada, dentro da redação de um jornal diário
na cidade de Santa Maria. “Internet”, naquele momento em que era concebida no
hemisfério norte, era uma palavra que sequer constava nos dicionários e muito
menos no vocabulário de pessoas inseridas e atuantes na sociedade da época.
Os teclados em que
escrevíamos eram os das máquinas de escrever. As agências internacionais eram
os aparelhos de telex, que despejavam notícias do país e do mundo dentro das
redações. O telefone era o maior aliado do repórter, e sua agenda de contatos
valia ouro. Telefone convencional, lógico, porque “celular” era termo usado
somente nas aulas de biologia. O Google e a Wikipédia eram os grossos volumes
das enciclopédias, dos dicionários, dos Almanaques Abril e da memória e da
cultura de cada um de nós. Era preciso mais saber e conhecer do que buscar.
As máquinas
fotográficas eram analógicas, usavam rolos de filmes de 36 ou 72 poses (as mais
avançadas de uso profissional) e as fotos precisavam ser reveladas e ampliadas
nos laboratórios fotográficos que os jornais melhor equipados possuíam. Escreviam-se
as matérias em laudas que depois eram digitadas nas oficinas pelos
componedores. Era preciso escrever o mais corretamente possível, pois os
atalhos para as correções eram mínimos. E, como para escrever bem é preciso ler
muito, os jornalistas daquela época eram ótimos leitores.
Essa equação, apesar do
avanço das tecnologias digitais, segue inalterada e não creio que irá mudar.
Não há Google que suplante um cérebro humano leitor, bem informado, culto,
crítico, observador, criativo e alerta. E que venham mais 25 anos...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 17 de março de 2014)
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