Pronto!
Pra quê! Foi só eu escrever aqui na sexta-feira sobre as aprontadas que nosso
cérebro faz quando nos botamos a agir no piloto automático, narrando o sumiço
momentâneo da minha tigelinha com pêssegos em calda produzidos por minha sogra,
para que diversos leitores se entusiasmassem em me enviar relatos sobre
episódios esdrúxulos protagonizados pelos pilotos automáticos de estimação de
cada um deles. Compartilho alguns desses relatos, na intenção de justificar
minha preocupação em relação a permitir que os pilotos automáticos tomem conta
do timão das barcas de nossas vidas (“timão das barcas de nossas vidas”, eita
eu, hein?).
Não
direi nomes, nem dos remetentes dos e-mails e nem dos seus pilotos automáticos,
para evitar constrangimentos alheios. Sou um cronista consciente. Mas a Sofia,
por exemplo (nome fictício, bobinhos), me disse que isso que aconteceu comigo
não é nada. “Aérea mesmo é minha tia Riette, que perdeu a bolsa dentro de casa
e teve de ir para o trabalho sem ela. Só de noite, de volta, é que descobriu
ter enfiado, na pressa, a bolsa dentro da geladeira”. Essa, sim, passou a semana
distribuindo cheques frios pela cidade. Evitem cheques da tia Riette, ela
navega no piloto automático.
Outro
me escreve delatando um tio (por que é que, na maioria dos casos, são os
pilotos automáticos dos tios dos leitores que aprontam, hein?) que, movido pela
fome atroz que lhe acomete quando o relógio soa meio-dia (não importa se no
horário de verão ou no horário que deveria), quis se botar a apurar o preparo
do almoço, se enfiou na cozinha, meteu a mão na travessa de salada cheia de
radite e regou-lhe generosamente com detergente, achando que era vinagre. Eita,
tiooooo! Desliga o piloto!
Uma
leitora que sempre me escreve confessou ter, ela mesma (só pode ser tia de
alguém), saído às pressas do trabalho porque o marido a esperava já há tempos
no carro do outro lado da rua. Atravessou correndo, abriu a porta do veículo,
sentou no banco do carona, disse “oi, amor” e, quando foi dar o beijinho,
deparou-se com um barbado que não era o dela. Entrara no carro errado. No
piloto automático, por pouco não comete um inusitado caso de autossequestro.
Sem
falar nos outros e-mails e naquelas três outras histórias que minha esposa não
me deixa contar. O bom do piloto automático é que, pelo menos, temos a quem
atribuir a culpa das mancadas. A ele, ou aos tios, né, tia Riette.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 29 de março de 2014)
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