Ser um veranista de
baixa temporada exige a adoção de alguns requisitos fundamentais para que as
férias possam proporcionar ao cidadão e sua família os prazeres mínimos que
julga-se necessários para abandonar a rotina e descansar perto do mar e longe
do burburinho urbano que dá o tom da vida ao longo dos demais 11 meses do ano. Como
em tudo, mas absolutamente tudo, existem as vantagens e as desvantagens. O
segredo está (como em tudo, mas absolutamente tudo) em saber fazer a leitura
adequada da balança e arcar com as consequências.
As primeiras partes do
corpo do veranista de baixa temporada a sentirem os efeitos benéficos de optar
por veranear depois do Carnaval são o bolso e a carteira. Isso porque os preços
dos imóveis para alugar e das diárias dos hotéis despencam do patamar conhecido
como “da hora da morte” para um nível mais razoável, que pode ser designado
como “sobrevida alvissareira” ou “a UTI nem é tão ruim”.
A caipirinha fica menos
salgada (falo em termos monetários, não gastronômicos), é verdade, mas, em
compensação, surge o problema de conseguir encontrar quiosque aberto na orla a
fim de adquiri-la. Muitas vezes é preciso empreender longas caminhadas pela
areia até encontrar uma barraquinha solitária cujo dono se dispõe a permanecer
operante março adentro. Vejo esses homens como abnegados cidadãos altruístas
que pensam nos outros (ou seja, em nós) e se oprimem com a perspectiva de
negar-lhes (nos) a cervejinha gelada, a água de coco (agora já quase secos), a
batatinha frita, a isca de peixe empanada, essas coisinhas tão fundamentais
pelas quais perpassa a verdadeira sensação de se estar, enfim, em férias à
beira-mar.
A diminuição estratosférica
da população praiana nesta época do ano em que a orla pertence aos veranistas
de baixa temporada contribui para criar uma atmosfera intimista que sintoniza
perfeitamente com o vento do meio da tarde que parece mais frio do que em
fevereiro, com a ressaca do mar que parece pior do que a de janeiro e com o
silêncio circundante, que pode ser ouvido com a diminuição da presença das
crianças, dos argentinos, das caixas-de-som emplacadas ambulantes e dos
vendedores de óculos escuros.
Nasci para ser
veranista de baixa temporada. Eu, meu chinelo, vento gelado, quiosque solitário
de caipirinha e um livro volumoso. Em março, sinto-me na praia em Marte.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 12 de março de 2014)
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