O nível de comunicação
entre dois homens para solicitar a reposição de uma garrafa de cerveja numa
mesa de bar ou de restaurante é algo que beira à perfeição. Em sendo do sexo
masculino os dois homens-personagens em questão (cliente e garçom), não será
necessário mais do que uma olhadela do garçom de lá do canto e um rápido gesto
do cliente do lado de cá para que outra garrafa geladérrima se materialize
dentro do recipiente térmico para garrafas que está na mesa.
Trata-se de um exemplo
perfeito de economia máxima de energia na obtenção do máximo de resultado. Um
olhar, um gesto, nova cerveja. Equação perfeita, elegante, irretocável, para
fazer matemáticos de ponta babarem de inveja e desejarem uma gelada para afogar
suas mágoas. O grau de especialização desse tipo de comunicação já atinge
patamares quase universais, sendo que hoje em dia é possível um homem monoglota
solicitar a reposição da cerveja na Holanda, na Transilvânia, em Honolulu, na
maior tranquilidade.
O mais difícil de todo
esse processo é conseguir a atenção do garçom, procedimento repleto de
dificuldades em qualquer lugar do planeta. Vencida essa etapa, quando o garçom
cruza o olhar dele com o seu, é preciso agir rápido. A garrafa vazia da cerveja
já deve estar posicionada em um canto da mesa, com o rótulo virado para fora, a
fim de facilitar a visualização por parte do garçom, que dará sequência à
bebeção com a mesma marca já pedida, lógico, todos sabem dessa premissa
cervejeira básica (nós, os homens, ao menos, sabemos).
Contato visual
estabelecido, o gesto a ser feito permite variações, todas elas perfeitamente
compreensíveis pelo garçom. O mais comum é levantar o braço e fazer o gesto de “um”
com um dedo, dando uma olhadela rápida para a garrafa vazia sobre a mesa. O
garçom verá e acenará positivamente com a cabeça, mostrando que entendeu. Logo
virá nova cerveja. Também é possível usar as duas mãos, fazendo um gesto
sincronizado que representa o tamanho de uma garrafa no sentido vertical.
Também virá nova cerveja. Pode-se ainda apontar com o indicador para a desolada
garrafa vazia e logo transformar o punho em sinal de “positivo perguntante”.
Funcionará. Nova cerveja virá.
Soube que especialistas
foram contratados pela ONU a fim de desvendarem em que níveis cerebrais se dá
essa harmonia universal entre homens na hora de pedir uma cerveja. Pode residir
aí a chave para a conquista da compreensão universal.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 13 de março de 2014)
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