O segundo melhor Carnaval de
minha vida aconteceu em meados da década de 1980 do século passado, quando eu
ainda era estudante de Jornalismo em Santa Maria e decidi passar o feriado
momesco na cidade, sem viajar para a casa materna em Ijuí, devido a compromissos
relativos ao Diretório Acadêmico da Comunicação Social, cuja diretoria eu
integrava. Depois de redigidos os textos combativos com os companheiros, de
datilografados os conclames anti-ditadura na minha máquina de escrever
portátil, de impressos os panfletos no mimeógrafo e de encerradas as discussões
na reunião cuja principal decisão fora marcar a data de uma nova reunião, eu
finalmente estava livre para curtir o feriado... porém... sozinho na Boca do
Monte!
Para minha alegria, um amigo
ijuiense que fazia residência médica e era rico para nossos padrões estudantis
(morava sozinho em um apartamento alugado, possuía um Fusca 1300 azul, pagava
rodadas de cerveja para a gurizada e tinha aparelho de videocassete), viajou e me
emprestou a chave de seu apartamento durante o feriado, para que eu tomasse
conta. Comprei umas latinhas de cerveja, aluguei oito fitas VHS na locadora e
passei o Carnaval varando madrugadas e assistindo aos filmes que tanto queria
ver e rever. Uma delícia.
Já o primeiro melhor Carnaval de
minha vida deu-se alguns anos antes, na adolescência, quando ainda morava em
Ijuí. Na quarta-feira de cinzas, coloquei uma máscara de monstro feita de
látex, botei meus óculos de armação preta por cima da máscara, enfiei um casaco
preto de couro com o zíper fechado até o queixo, calcei luvas e convenci minha
mãe a sair dirigindo o Passat branco pela cidade, comigo no lado do carona,
vidro aberto, meio corpo para fora, abanando para todos os transeuntes,
gritando “grau” e causando sustos. Fi-lo porque qui-lo e porque mascarei-me,
como diria Jânio Quadros.
Hoje, passadas a adolescência e
a juventude universitária, varo as madrugadas de Carnaval afundado no sofá da
sala, zapeando pelas transmissões ao vivo dos desfiles das escolas de samba no
Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre e Caxias do Sul. Minha favorita no Rio
é a Salgueiro. Em São Paulo, a Vai-Vai. Em Porto Alegre, a Embaixadores do
Ritmo e, aqui em Caxias, ainda estou em fase de namoro. Mas o que tem de
caxiense com samba no pé, é algo de impressionar passistas tarimbados forjados
ao sol de Copacabana. E não é que polenta também tem ginga?
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 3 de março de 2014)
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