Deu muito tomate nas terras de
meu sogro, este ano, e tive a oportunidade de participar, dois meses atrás, de
um mutirão familiar dedicado a transformar quilos e quilos (transportados em
cestas e cestas) do fruto (porque tomate, senhores, é um fruto) em massa de
tomate para guardar depois em potes e utilizar na culinária quando for o caso
de preparar molhos para macarrão, para polenta mole, para risoto, e o diabo de
escrever uma crônica dessas no meio da manhã é que começo a salivar e a desejar
que chegue logo o horário do almoço.
Mas estávamos nós lá, agrupados
em torno da tomataiada (qual o coletivo de tomates?), cada um desenvolvendo a
tarefa que lhe fora destinada (uns lavando os tomates, outros cortando-os em
cruz e jogando-os em um tonel com água no qual os mais habilidosos os iam
esmagando para tirar-lhes as sementes e assim por diante), enrubescendo as mãos
e compartilhando “causos”, quando a destreza de determinado membro da família
chamou a atenção de todos. O indivíduo em questão (que não vou identificar por
medo de ganhar menos presentes no Natal, é preciso pensar a longo prazo)
demonstrava uma habilidade ímpar, e até então velada, em desempenhar com
maestria todas as etapas daquele processo tomateiro, impressionando a todos.
Generosos e expansivos como
somos, não poupávamos comentários elogiosos ao cunhado em questão (ahá... mas
eu não disse cunhado de quem!), até que meu sogro, do alto de sua calma e
sabedoria, resumiu tudo em uma frase: “Isso é o despertar da pessoa”. Aquilo
calcou fundo na alma de cada um. Facas pairaram suspensas no ar por alguns
segundos; borbulhas na tina de tomate estouraram silenciosas; movimentos ritmados
cessaram; olhares se cruzaram. Isso tudo durante uma fração de segundo, lógico,
porque logo seguimos adiante na balbúrdia porque o sol nunca para e ainda era
preciso cozinhar aquilo tudo num tacho fervente e depois lavar as calçadas e
fazer o almoço e descascar pêssegos e...
Mas o fato é que, em paralelo ao
extrato que extraímos dos tomates naquela manhã de janeiro, extraiu-se da
sentença de meu sogro a compreensão de que sempre haverá, em algum momento de
nossas vidas, o despertar da pessoa. Nem que seja esmagando tomates. Ou lendo
um livro. Ou escutando a história de alguém. Ou observando o mar. Ou na
tristeza. Ou na alegria. Importante é que, em algum momento, a pessoa desperte.
Não dá para passar a vida adormecido.
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