Sempre que não tenho algo melhor para fazer, boto-me a
refletir sobre irrelevâncias que me deixam pasmo. A completa falta de utilidade
prática e racional de alguns objetos do cotidiano, teoricamente concebidos com
o fim de servirem para alguma coisa, foi o tema de uma dessas minhas recentes
digressões.
O objeto que ocasionou a elaboração deste breve
tratado sobre a inutilidade das coisas está, por ironia, intimamente ligado ao
ato de produzir e compreender textos. Refiro-me aos minidicionários, conhecidos
como dicionários de bolso, mas dificilmente encontrados nesses lugares que,
apesar de popularmente vazios, nunca comportam tal artigo sem comprometer
seriamente o bom estado de um ou de outro. Devo deixar claro que não tenho a
intenção de questionar a erudição e a competência dos eminentes filólogos que
se dedicam à compilação de dicionários, pequenos dicionários enciclopédicos,
dicionários de sinônimos e antônimos, dicionários inglês-português (vice-versa
e afins), objetos de valor inestimável para a consulta daqueles que desejam bem
escrever e/ou bem compreender o mal escrito ou o prolixamente escrito. O que me
perturba é a edição dessas miniaturas que servem para bem pouca coisa, não
subestimando o seu valor como peso para papeis e porta-xícaras.
Pergunto então, ao leitor amigo: qual seria, a
princípio, a finalidade da elaboração de um minidicionário? Respondo: arrolar
em um volume de fácil manuseio e preço acessível, uma série de verbetes
relativamente pouco usuais, atendendo às necessidades daqueles que não dispõem
de uma obra de maior envergadura para tirar as suas dúvidas. Mas apesar da
tese, não é o que ocorre na prática com esses livretos que preenchem suas
páginas traduzindo o significado de palavras como “cadeira”, “toalha”, “bacia”,
“remédio”, “olhar”, em suma, termos que nunca serão consultados por nenhum ser
humano, letrado ou não, haja vista que seu significado é de domínio universal.
Claro que o advento da internet e dos dicionários
eletrônicos está solapando o destino dos minidicionários impressos, ficando eu
aqui a tergiversar sobre anacronismos. Mas espera aí... “Solapando”?... “Tergiversar”?...
“Anacronismos”?... Cadê meu dicionário??
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 30 de abril de 2015)