Vamos conversar sobre algumas obviedades que, apesar de serem óbvias, parecem às vezes esquecidas pelos (pseudo) cidadãos que infestam as ruas e estradas de nossas cidades serranas. Uma obviedade, quando esquecida, na verdade está sendo é deliberadamente negligenciada, porque obviedades não se esquece, é óbvio. Aí, quando se faz de conta que foram esquecidas, não se trata de esquecimento real, mas sim de sem-vergonhice mesmo.
A obviedade da civilidade no trânsito, por exemplo. Foi-se para as cucuias, junto com o espaço para transitar. É verdade que o tráfego está caótico nas cidades e nas estradas; que há veículos demais e alternativas viárias de menos; que o engarrafamento é uma constante; que não há vagas para estacionar apesar dos estacionamentos rotativos e das garagens pagas; que isso tudo gera ansiedade e estresse nos motoristas que, por isso mesmo, acabam dirigindo ainda pior. Tudo isso é verdade. Porém, nada disso justifica incivilizar-se ainda mais, assumir deliberadamente a barbárie e intensificá-la.
Tenho percebido que alguns (pseudo) cidadãos estão optando por adquirir caminhonetes enormes como se elas fossem a alternativa individual para se blindarem contra os estresses do trânsito. Pior do que isso: ao ligarem os motores e saírem às ruas, dirigem como se fossem os donos do pedaço, como se as regras de trânsito não mais se aplicassem a eles e seus bólidos. Como se tamanho passasse a ser documento, e não mais a carteira de motorista, que ainda suponho que possuem. Enfiar a carcaça motorizada por cima dos demais, abrir espaço a força, ignorar as leis da preferência é o que passa a ser a preferência de muitos desses condutores, que se julgam protegidos pela altura e pelas dimensões reforçadas do veículo que (mal) conduzem.
Não são todos, eu sei, e a culpa da guerra no trânsito não é só deles. Mas são muitos, o suficiente para gerarem um comportamento padrão e facilmente detectável. Calma, gente. Lamento informar e ter de dizer o óbvio, mas a solução para o problema comum e geral não é a aquisição de brucutus sobre rodas para enfiá-los por cima dos outros, abrindo alas à força. Isso, no final das contas, só reflete o perfil brucutu de quem os dirige.
Porém, se a ideia é mesmo essa e vingar, não vou ficar aqui chorando as pitangas. Vou abrir uma revenda de patrolas com ar-condicionado e de tanques de guerra com air-bag para circulação urbana, antes que outro empreendedor o faça e roube minha pioneira iniciativa.
(Crônica publicada no jornal Informante, de Farroupilha, em 10 de junho de 2011)
Um comentário:
É aquela coisa: melhor que isso (em relação ao texto), só dois disso. Bons pitacos em toda atrocidade que vemos por aí.
Sem contar que, pelas famosas do Código de Trânsito Brasileiro, quanto maior o veículo, maiores a responsabilidade e cuidados em relação aos demais. Mas vaí enfiar isso na cabeça...
Podemos até sugerir uma teoria: os pseudo cidadãos acordam de maneira "doce", conforme aquele teu texto anterior (Pioneiro, 10/06), e caem no trânsito!
:-D
Que venha o próximo.
NOTA: Kirst, se tu abrir a tal revenda, por favor lança uns cupons de desconto aqui pros teus leitors, ok? Nem precisa ser com ar condicionado...
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