Ao longo da vida, deparamos com
vários tipos de pessoas, cada qual com suas nuances, cada qual ataviada com as
características próprias que lhes moldam a personalidade a partir de seu
temperamento, de suas inclinações, das experiências pelas quais passou e de como
lidou com elas. Ninguém é exatamente igual a algum outro em seu perfil humano.
Mesmo assim, na tentativa de facilitar nosso próprio esforço de compreensão dos
outros, procuramos criar grandes grupos nos quais agregamos pessoas com perfis
semelhantes, a fim de, classificando e reduzindo, conseguirmos identificar um
pouco melhor a natureza de quem nos cerca e, de posse dessa compreensão (muitas
vezes falha, sempre incompleta), podermos decidir como agir frente a elas.
É assim que surgem as fórmulas.
Nós, humanos, gostamos de fórmulas e elas não se restringem às decorebas das
aulas de matemática e física nos tempos da escola. Eu gosto de fórmulas humanas
a título de curiosidade, mesmo sabendo que elas são imprecisas, reducionistas,
impositivas e frágeis. Mesmo assim, uma delas me chamou a atenção recentemente,
por ser aplicável às pessoas que nos cercam ao longo de nossas vidas, no
ambiente de trabalho, na família, em todos os lugares. Vou compartilhá-la aqui,
lembrando que, assim como gostamos de enquadrar os outros nessas formulinhas,
eles também têm o direito, o poder e a inclinação de fazer o mesmo, enquadrando
nelas também a gente.
Kurt von Hammerstein (1878 -
1943) era um oficial que estava no topo do comando do Exército alemão quando
Adolf Hitler chegou ao poder, em 1933. Por discordar frontalmente dos ideais
nazistas, o general afastou-se para a reserva ainda antes do início da Segunda
Guerra Mundial e, até morrer, dedicou-se a combater internamente o regime do
ditador. Conhecido por sua inteligência, Hammerstein tinha uma máxima ficou
famosa. Dizia assim: “Eu divido os meus oficiais em quatro grupos. Há oficiais
inteligentes, aplicados, burros e preguiçosos. Em geral, essas qualidades vêm
aos pares. Há os inteligentes e aplicados, que devem ir para o Estado-Maior.
Depois vêm os burros e preguiçosos; esses são 90% de qualquer Exército e são
próprios para tarefas de rotina. Os inteligentes e preguiçosos têm o que é
preciso para tarefas mais altas de liderança, pois têm clareza mental e firmeza
dos nervos na hora de decisões difíceis. Mas é preciso tomar cuidado com os
burros e aplicados; não podem receber nenhuma responsabilidade, pois só sabem
causar desgraça”.
Interessante, não? Mas, cuidado,
alguém pode estar lendo isso e pensando em você...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 30 de junho de 2016)