Como o mar não está para peixe, decidi requentar uma
abobrinha, na esperança de que o tema seja de mais fácil digestão. Pode ser,
madama? Essa questão da abóbora oferecida pela Ana Maria Braga à Taís Araújo, recusada
pela atriz ao vivo e a cores no ar, dia desses, no programa “Mais Você”, rendeu
um caldo, concorda? A bela e competente Taís Araújo, uma das convidadas do dia na
atração matinal chefiada pela apresentadora chef, viu-se confrontada com um
prato feito à base da única coisa no planeta que ela não come, nem que seja
amarrada e levada à força, digamos, ao programa da Ana Maria Braga: abóbora.
Taís Araújo não come abóbora, ponto. Ela até jurou que não
se mixa frente a uma pratada de bucho, ou de um quiabo, ou mesmo de uma
caldeirada de lula. Enfim, qualquer coisa, mas, abóbora, não! Taís revelou que
come não só de tudo, mas que também come muito. Gosta de prato fundo, de comida
“de verdade”, que é como ela classifica um prato de feijão, arroz, massa e pata
de elefante. Come e gosta de falar de comida, seu assunto predileto. “Sou
monotemática, só falo em comida”, explicou a longilínea atriz, enquanto o aroma
do nhoque de abóbora da Ana Maria Braga saltava das panelas e invadia os
estúdios do Projac, quase chegando até nossas casas, lembra, madama? E a pobre
da Taís ali, com cara de quem não comeu, não comerá e não gostou.
Foi o que bastou para que o episódio viralizasse pelo país
inteiro. Uns, defendendo a sinceridade da Taís, em recusar aquilo que não gosta
(questão de postura e respeito). Outros, achando que ela foi indelicada
(questão de postura e respeito, também). Outros, ainda, criticando a
inoperância da produção do programa, que não identificou com antecedência as
restrições gastronômicas da convidada (questão de competência). Mas, também,
né, madama, convenhamos. Primeiro, quem iria imaginar a existência de uma
criatura que não gosta de abóbora? Pepino, cebola, repolho, chuchu, vá lá, mas,
abóbora? Francamente! E, depois, tem outra: como disse a própria atriz, quem
iria imaginar ser servido com nhoque de abóbora no desjejum, às oito da manhã? Francamente,
também!
Antes que a madama julgue ser abobrinha comentar a abóbora
da Ana Maria Braga, antecipo que o episódio guarda, sob as asas do Louro José,
alguns aspectos para a reflexão. Entre eles, figura a linha fina e tênue que
separa a chamada “sinceridade” da boa educação, bem como a linha fina e tênue
que separa a convicção de atitudes do cuidado e o respeito com o outro e suas
peculiaridades. Conviver é uma arte que não se aprende lendo receitas.
(Crônica publicada no jornal "Pioneiro", de Caxias do Sul, em 29 de maio de 2017)