Ingrid que faça o que bem entender com o cotovelo dela ou com o que quer que seja...
Ditados populares são sábios. Tem aquele que diz assim: “diga-me com quem
andas e eu te direi quem és”. Gosto desse. Diz profunda verdade. Tão profunda
que permite criar versões dele mesmo e aplicá-las às mais variadas situações da
vida, que ele segue valendo. Por exemplo: “diga-me o que te interessa e eu te
direi quem és”. Quais são os assuntos que chamam a sua atenção nesse mundo
moderno em que as mídias todas competem para atrair os preciosos minutos de
nosso tempo pingado a conta-gotas? Quais programas de televisão recebem a
benesse de seu olhar contemplativo de lá do fundo do fofo sofá de sua sala?
Quais as notícias dos jornais merecem o debruçar de seus olhos para além dos
títulos?
Pois é. As respostas a todas essas questões, meus amigos, ajudarão a
dizer quem somos. Só para ilustrar, vejamos. Nas últimas semanas, detectei um
tema que figurou entre os dez mais comentados por onde quer que se estivesse:
nas mesas do café literário, na internet, nos jornais, nos programas de debate
na televisão, nos táxis, nas salas de espera, enfim, por tudo. Não houve quem
não dedicasse alguns minutos de sua vida para expressar sua opinião a respeito
do caso da jovem catarinense Ingrid Migliorini (a Catarina), que aos 20 anos de
idade resolveu leiloar a virgindade, obtendo R$ 1,6 milhão para ofertá-la em um
voo transatlântico ao comprador japonês que deu o maior lance. De minha parte,
nada contra, nem a favor, cada um faz com seu cotovelo o que bem entender. O
interessante é que, independentemente do julgamento de cada um, o assunto foi
notícia e ganhou repercussão porque as pessoas se interessaram por ele. Quem
determina o tamanho da relevância de uma notícia é o interesse que as pessoas
depositam nela. E ponto.
Mais do que questionar os motivos que levaram a jovem a decidir fazer o
que fez, julgo que seria bem mais significativo para cada um de nós se
dedicássemos uma parcela desse tempo para questionar as razões que nos levam a
julgar esse tema tão relevante. Da mesma forma como a todas as demais questões
às quais damos, às vezes, valor sem nem mesmo perceber. É um bom exercício para
conhecermos melhor a nós mesmos, já que temos de andar conosco nossas vidas
inteiras.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 9 de novembro de 2012)
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