segunda-feira, 20 de maio de 2013

Banhadinhos e sorridentes


Vamos, nós, brasileiros, sediar uma Copa do Mundo no ano que vem e uma Olimpíada daqui a três anos. Centenas de milhares de turistas de todas as partes do planeta virão ao nosso país, atraídos pela realização dos dois mais significativos eventos esportivos mundiais da atualidade. Especialmente em função da Copa, a movimentação pode até mesmo vir a respingar diretamente em municípios da Serra Gaúcha, postulantes a sediar o abrigo a alguma seleção estrangeira na primeira fase da competição.
Glup, que medo!
Somos, nós, brasileiros, na maioria dos casos, bastante conscientes e autocríticos de nossas falhas e limitações em vários (senão todos) aspectos estruturais e (especialmente) culturais que podem nos deixar de saia justa e nos fazer passar uma astronômica vergonha perante o mundo, desnudando as mazelas que historicamente nos afligem. Tenho visto pela mídia a preocupação de formadores de opinião com as questões relativas a esse problema, convocando todos nós, brasileiros, a assumirmos nossa parcela pessoal de responsabilidade perante esses eventos, colaborando para, pelo menos durante esses períodos, transformar o Brasil em uma nação palatável e remotamente civilizada.
Para isso, estamos sendo convidados desde já a passarmos a praticar desde singelos gestos do cotidiano, como não jogar lixo nas calçadas e dirigir com responsabilidade, até ações estruturais como aeroportos modernizados, estradas decentes, segurança nas ruas e assim por diante. Ou seja, da noite para o dia, somos conclamados a nos civilizarmos, a deixarmos a barbárie egoística e inconsequente que rege nosso comportamento no cotidiano para aparecermos limpinhos, penteadinhos e sorridentes aos nossos futuros visitantes.
Vai ser difícil, pois trata-se de uma questão (in)cultural nossa, mas concordo que vale a pena o esforço. Depois que eles se forem, podemos retornar alegres e aliviados ao nosso verdadeiro estado incivilizado de ser, regidos que somos pela não-cidadania e pelo conjugar de todos os esforços possíveis em proveito próprio, ralando-se a ética e as regras básicas de convivência. Depois, podemos voltar a ser brasileiros. A não ser que, por algum milagre, passemos a apreciar a fugaz experiência da civilidade. Afinal, tudo pode acontecer...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 17 de maio de 2013)

Um comentário:

Rafaela disse...

Quero ver essa seleção que vai treinar aí aguentar o frio!!!