segunda-feira, 3 de junho de 2013

Reflexão copeira

Quando a Seleção Brasileira conquistou a Copa do Mundo no México, em 1970, eu estava a duas semanas de completar quatro anos de idade e meus maiores interesses giravam em torno de um Pato Donald de plástico em cujo bico eu fizera um furo a fim de alimentá-lo com restos de minha própria comida, o que fez o brinquedo passar a cheirar muito mal algum tempo depois e ser descartado no lixo.
Da Copa de 1974 eu recordo vivamente da partida final entre Holanda e Alemanha Ocidental porque era domingo, 7 de julho, véspera de meu aniversário, e havia festa lá em casa devido à data. Porém, todas as atenções dos homens adultos estavam voltadas ao televisor posicionado próximo à mesa com docinhos, refrigerante e o bolo de meus oito anos. A Alemanha sagrou-se bicampeã mundial e recordo de meu avô paterno festejando muito tudo aquilo e comentando a qualidade do jogador Beckenbauer.
Na de 1978, realizada na Argentina, eu já era mais grandinho, tinha consciência de ser gremista e sabia até os nomes de alguns jogadores não só do escrete nacional como também da seleção anfitriã, como Kempes, Luque e Passarela. Uma televisão era instalada na sala de aula para acompanharmos os jogos da Seleção Brasileira e foi ali que comecei a aprender a torcer, observando as reações de meus colegas.
A Copa de 1982 foi a primeira que acompanhei de fato. Decorei a escalação da Seleção, colei com Cola Tenaz em um álbum as figurinhas dos jogadores de todas as equipes e assisti a todas as partidas que pude. Sofri sozinho em casa a desclassificação da Seleção Canarinho sob o chute certeiro do italiano Paolo Rossi. Era uma tarde nublada de segunda-feira, e meu estado de espírito também se acinzentou com aquele resultado adverso. Foi a primeira vez em minha vida que o futebol estabeleceu comunicação direta com a minha alma e me integrei para sempre à imensa população mundial que sofre e festeja com as derrotas e as conquistas de seus times do coração.

Agora adulto, torço é para que, muito além do futebol, os brasileiros possam dar exemplos de cidadania ao sediarem ano que vem, uma Copa do Mundo, a ponto de podermos sair orgulhosos do evento, independentemente do resultado que nossa Seleção obtiver nos gramados.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 31 de maio de 2013)

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