sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Forte Apache e Zorro

Não preciso de convocação e nem de intimação com dedo em riste. Nada disso. Quando a ordem do dia consiste em rumar para uma loja infantil escolher brinquedo para dar de presente ao afilhado, dispenso ultimatos e já estou no carro, motor ligado, cinto colocado, mãos no volante.
Vamos, vamos, que sou fissurado por loja de brinquedos. Sinto-me como que mergulhando em um país das maravilhas toda vez que entro em algum desses estabelecimentos, distanciando-me da crueza do mundo adulto que parece ser represado do lado de fora daqueles domínios ao custo de nossas infâncias hoje perdidas. Perdidas em termos etários, mas não necessariamente sufocadas devido às responsabilidades inerentes à vida adulta. A criança que fui segue habitando em mim ao longo de minha existência, e ela exulta nesses deliciosos momentos que antecedem datas comemorativas em que o afilhado merece presentes.
Para mim, o presente é justamente poder passear pelas gôndolas me encantando com as infinitas possibilidades de abertura de mundos mágicos e lúdicos geradas pelos inúmeros brinquedos que nelas repousam, cada um fazendo silenciosamente o seu apelo para ser levado junto. Nos meus tempos de criança, lá em Ijuí, essa magia se materializava sempre que meus pais me levavam para lojas como a Ki-Presentes, A Boa Compra ou a Livraria Cultural, para escolher algum brinquedo. Tive uma infância repleta deles, dos quais lembro com especial carinho do Forte Apache; dos bonequinhos dos personagens de Walt Disney e da Turma da Mônica; da fantasia do Zorro com máscara, capa e espada; do revólver de espoleta com o qual caçava índios imaginários (hoje corretamente relegado à condição de brinquedo politicamente incorreto); do Estrelão, campinho de madeira compensada sobre o qual jogava futebol de botão; do teatrinho de fantoches com o qual aprendia a inventar histórias (mania que grudou em mim para sempre e que hoje pratico sob outras roupagens) e tantos outros.
Nada melhor para a construção de uma vida positiva do que uma infância feliz permeada de brinquedos. Sorte minha. Sorte a de meu afilhado. Pena que essa sorte ainda não seja a realidade de todos. Mas sorte é algo que a sociedade consegue mudar sempre que deixa de brincar com coisa séria, e a infância dos cidadãos é uma delas. Ah, o Dia das Crianças está aí!
 (Crônica publicada no jornal Pioneiro em 11 de outubro de 2013)

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