Certo cronista norte-americano
radicado há décadas no Brasil, que escreve seus textos em jornais do centro do
país (não lembro o nome do dito cujo e nem da publicação, mas ao menos recordo
a essência do comentário, feito recentemente por um amigo, e assim tenho o
insumo necessário para o moldar desta crônica aqui, escrita por mim mesmo, cujo
nome, ao menos por ora, ainda lembro), tenta compreender a essência da cultura
brasileira a partir da observação dos atos cotidianos comuns à maioria da
população. Tarefa árdua a que se impôs esse gringo, a de tentar compreender o
incompreensível, mas, enfim, cada um carrega a cruz que lhe é destinada e
ponto.
O tal do cronista, então, parece
que andou tecendo uma relação entre civilização e trânsito, demonstrando que a cultura,
ou a falta de cultura (no nosso óbvio caso) de um povo pode ser também medida,
por exemplo, pela maneira como os motoristas se comportam dirigindo seus
automóveis (ou suas máquinas de matar e de atropelar e de abalroar e de
ultrapassar e de transgredir, no nosso óbvio caso) no trânsito. Aplicando esse
tipo de aferição, nós, brasileiros, trogloditas brucutus dinossáuricos
imbecilizados e brutamontes que somos no trânsito, ocupamos o fim da fila da
civilização, quando comparados com o comportamento de motoristas
norte-americanos e de outros locais do mundo em que a civilização e a
civilidade já chegaram. Interessante.
Eu, de minha parte, que cronista
também sou, mas não norte-americano, gosto de utilizar outra escala para medir
e comprovar, com tristeza, nosso brasileiríssimo grau de constante involução
civilizatória: o comportamento dentro dos elevadores. Para ficar só nos
domínios da América Latina, já andei de elevador em países como Argentina,
Uruguai, Colômbia, Panamá, Venezuela. Em todos, os nativos entram, olham nos
olhos dos desconhecidos que com eles compartilham, durante apenas alguns
instantes, aquele mesmo espaço claustrofóbico, e os cumprimentam tanto na
entrada quanto na saída. Singelos, gentis e civilizados atos de convívio
humano, que os brasileiros simplesmente desconhecem, dentro de sua escafândrica
brutucuzisse aguda. Triste fim acena no horizonte para um povo que abandona
“bom dia“, “boa tarde”, “até
logo” com tanta facilidade.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 2 de fevereiro de 2015)
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