segunda-feira, 14 de maio de 2018

Ópera literária em 80 atos


Não é todo mundo que tem o privilégio de receber uma ópera inspirada em livro de sua autoria como presente de aniversário. Também não é todo mundo que possui a capacidade e o talento para produzir uma obra que mereça ser transformada em ópera, depois de já ter sido transposta das páginas originais do livro em que foi concebida para as telas do cinema (chegando a concorrer ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro). Afinal, não é todo mundo que se dedica com afinco a construir diariamente, ao longo de mais de seis décadas, uma sólida e profissionalizada carreira de escritor, a ponto de gerar obras de consistência estética e literária. Isso porque não é todo mundo que se chama José Clemente Pozenato, que segue a passos firmes rumo à completude de seus primeiros 80 anos de idade, a serem oficializados no próximo dia 22 de maio.
Só José Clemente Pozenato se chama José Clemente Pozenato, e só a ele cabe administrar essa sua muito bem construída biografia pessoal consolidada nos pilares de uma intensa, criativa, rica e generosa vida dedicada à cultura, à educação e às artes, em especial a da escrita. Pozenato chega aos 80 anos usufruindo a expectativa pela montagem de seu livro “O Quatrilho” em formato de ópera, que estreia no Theatro São Pedro, em Porto Alegre, no dia 28 de julho, e depois em Caxias do Sul em 18 de agosto, no Teatro do Colégio Murialdo. “É meu presente de aniversário”, exclama o aniversariante, devoto de Santa Rita (que rege a data de seu nascimento), “a santa das causas impossíveis”, conforme ressalta.
Pozenato tem dedicado 65 de seus 80 anos à causa de transformar em possível uma vocação minuciosa ao labor da escrita, alimentada pelo único combustível conhecido: a leitura criteriosa daqueles que, como ele, entendem do ofício. O rapaz natural de São Francisco de Paula que escreveu seus primeiros poemas aos 15 anos de idade e venceu seu primeiro concurso literário aos 17, transformou-se em um referencial da escrita não por acaso. Pozenato lê, e muito, sempre procurando compreender a técnica existente por trás de uma frase bem escrita de Machado de Assis e de Clarice Lispector ou de um verso feliz de Petrarca, de Ovídio, de Virgílio (a quem, por sinal, lê no original), de Manuel Bandeira, de Cecília Meireles, de Drummond... Não se chega aos 80 anos por acaso. Também não se constrói uma carreira literária sólida por acaso. José Clemente Pozenato não é fruto do acaso, e a forma como vem compartilhando seu talento é o presente de aniversário com que brinda a todos nós. Parabéns, generoso Mestre!
(Crônica publicada no jornal "Pioneiro", de Caxias do Sul, em 14 de maio de 2018)

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