segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Por mais vida, por mais arte!


Cem anos atrás, em março de 1919, morria, em Criúva (hoje distrito de Caxias do Sul), uma bela e jovem moça de 26 anos de idade incompletos, que decidira fazer de sua vida (abreviada devido à tuberculose, doença incurável e fatal em sua época) uma opção preferencial pela cultura e pela arte. Proativa, vanguardista e criativa, temperava seu cotidiano em Porto Alegre e na Serra Gaúcha dedicando-se ao cultivo do espírito, consumindo e produzindo arte. Era poeta, de brilho e talento reconhecidos nos meios intelectuais e literários da Capital e da Serra, mesmo não tendo tido tempo de publicar livro contendo a obra que vinha lapidando com esmero e dedicação. Chamava-se Vivita Cartier, e seu corpo segue sepultado no Cemitério do Pontão, em Criúva, inspirando artistas de várias esferas de atuação, ao longo das décadas, driblando o sempre ameaçador manto do esquecimento.
Vivita Cartier é lembrada e a essência de sua alma artística é mantida viva porque sua vida e sua obra seguem falando e inspirando aqueles que reconhecem a relevância vital do cultivo do espírito humano (por meio das artes e da cultura) na formação da cidadania, na consolidação de sociedades civilizadas e desenvolvidas e na transformação dos seres humanos em plenamente humanos. Sua memória vem sendo cultivada por historiadores, pesquisadores e entusiastas (conhecidos e anônimos, alguns já falecidos, outros ainda ativos), como João Spadari Adami, Honeyde e Adelar Bertussi, Mario Gardelin, Mario Vanin, Juventino Dal Bó e Rodrigo Lopes, entre outros.
A biografia de sua breve vida, escrita por mim e lançada este ano, suscitou vários artistas a revisitarem sua história, ampliando as formas de se relacionar com sua essência, como os músicos da banda Rota Lunar, conduzidos por Selestino Oliveira, que arranjaram e musicaram alguns de seus poemas, gravando um CD especial; as alunas da Escola Estadual de Ensino Médio João Pilati, de Criúva, que levaram aos palcos a vida de Vivita por meio de alguns de seus poemas mais significativos; a fotógrafa Liliane Giordano, que produziu um ensaio fotográfico e uma mostra abordando vislumbres da Noiva do Sol (como Vivita era chamada) e o Grupo Teatral Ueba Produtos Notáveis, que encenou a vida da poeta em um trabalho magistral protagonizado por Jonas Piccoli e Anile Zilli. A luta empreendida por Vivita há mais de um século, por mais vida, se transforma em bandeira e símbolo nos dias de hoje por quem batalha pela manutenção da essência da vida a partir do cultivo das artes e do espírito, na guerra contra as névoas do obscurantismo.
(Crônica de Marcos Fernando Kirst publicada no jornal "Pioneiro", de Caxias do Sul, em 11 de novembro de 2019)

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