terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Livros na tomada


A evolução tecnológica, que tantos bons frutos proporciona, traz consigo seus poréns, como bem sabemos todos que eventualmente temos de trocar um pneu furado (mas que maravilha os automóveis!), substituir a resistência do chuveiro (mas que conforto uma ducha quentinha!) ou mesmo aguentar os debates sobre o assassinato do Totó (mas que espetáculo a televisão!). Semana passada, enquanto vituperava contra o azar de ver-me um turno inteiro desprovido ao mesmo tempo dos serviços de telefonia fixa, internet e tevê a cabo devido a um problema técnico, fui brindado pela súbita compreensão de que os temores que alguns intelectuais sofrem frente ao pesadelo do possível desaparecimento dos livros impressos são completamente infundados. Pelo menos, enquanto dependermos de energia elétrica e de provedores externos para animar a grande maioria dos brinquedinhos que a tecnologia nos oferece.
Cheio de serviço como eu estava naquela fatídica manhã em que não podia acessar a internet, nem telefonar para minhas fontes e tampouco relaxar assistindo ao Multishow, o que foi que eu me vi fazendo? Lendo um livro. Não que eu somente pegue um livro para ler nas raras ocasiões em que a minha aparelhagem tecnológica dá xabú, longe disso. O que estou querendo dizer é que o objeto livro, como defende Umberto Eco na obra “Não Contem Com o Fim do Livro”, é uma invenção acabada, pronta, tão genial quanto a colher e a roda, e não tem mais para onde avançar; não existem “melhorias tecnológicas” a serem efetuadas sobre ele.
Os Kindles e os iPads, aparelhinhos ultramodernos que permitem baixar livros (e-books) pela internet, acumular uma biblioteca inteira na memória e transportá-la com facilidade, não representam nem a evolução e tampouco a morte dos livros impressos. Representam outra coisa, outra invenção, outra plataforma de comunicação, que vai encontrar o seu lugar no mundo. Os livros da minha estante não precisam de bateria e nem de energia elétrica para serem acessados. Posso lê-los longe de uma tomada, e, se faltar luz, ligo uma lanterna ou acendo uma vela e sigo a leitura, da mesma forma como meu bisavô fazia. Mesmo assim, não vejo a hora de adquirir meu iPad...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 7 de janeiro de 2011)

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