A gente só muda maus hábitos quando se conscientiza internamente de que de fato aquela postura não condiz mais com o perfil que você pretende ver em si mesmo. Você é inteligente, você se alfabetizou, você tem acesso à informação e você sabe que, por exemplo, fumar faz mal à saúde. As próprias embalagens trazem impresso o alerta, o que se configura em um quase surreal tiro no pé em termos de marketing. Em um mundo lógico, deveria bastar para afastar do produto todo consumidor que saiba extrair sentido do ajuntamento de letrinhas.
Mas apenas saber não basta para mudarmos. É preciso ocorrer aquele momento de iluminação interior que a psicologia gosta de chamar de “insight”, para que a mudança comece realmente a tomar forma. Sem isso, nenhuma campanha faz efeito, qualquer conselho sensato aterrissa de imediato no cesto de lixo de nossas raras boas intenções. E não significa que basta acontecer esse instante de compreensão para que a mudança se efetive de imediato. Largar um vício, abrandar um traço ruim de personalidade, adotar um novo hábito saudável são caminhos que exigirão esforço e perseverança e, como tudo, independem de mágica para virar realidade. Haverá suor, e sabemos disso.
Se é assim em se tratando de adotar uma nova postura individual, a equação fica ainda mais complexa quando se deseja empreender uma mudança profunda de comportamento na coletividade. Nesse quesito, a sociedade brasileira vivencia hoje um momento histórico e crucial que, vindo a bom termo, é capaz de elevá-la em alguns degraus importantes na escala da civilização. Promover o divórcio total entre álcool e direção é uma bandeira que começa aos poucos a ser empunhada pela sociedade, e só vai virar realidade quando a conscientização proposta pelo poder público, pelas leis e pela mídia passar a ser uma verdade viva no íntimo de cada cidadão.
Esta semana, um motorista alcoolizado, que dirigia em ziguezague pela BR-116, foi dedurado à Polícia Rodoviária via celular por outro condutor que seguia atrás. O ato de cidadania do motorista “dedo-duro” pode ter ajudado a salvar vidas e tirou um inconsequente das estradas. É o cidadão comum ajudando, no dia-a-dia, a que uma nova postura crie raízes. Só assim o quadro vai mudar.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 25 de novembro de 2011)
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