Muito se falou, ao longo desta semana, sobre uma suposta “aula de futebol” que o time do Santos – e por tabela todo o Brasil – teria recebido em campo do Barcelona, no último domingo, na partida decisiva pelo Mundial de Clubes da Fifa, disputada no Japão. Após definir o placar em quatro a zero a seu favor (e poderia ter sido mais, como todos os que assistiram à partida, como eu, perceberam), o Barcelona levou o título e os aplausos pela qualidade do espetáculo futebolístico apresentado.
Mas o que aconteceu naquela manhã de domingo foi, em termos de futebol, apenas isso: um espetáculo. Em momento algum houve ali uma “aula” de futebol. O Brasil, leitores, convenhamos, não precisa de nenhuma “aula de futebol”. Isso é um daqueles jargões de efeito que um comentarista televisivo expele no calor do momento e, devido à criatividade intrínseca, logo se transforma em mantra repetido a torto e a direito, de norte a sul, sem nenhum pingo de reflexão. Reflitamos, então, agora, um pouco.
O Brasil não precisa de “aula de futebol”. Leva-se a sério o futebol neste país há mais de um século. Existem agremiações profissionais dedicadas à prática, ao ensino, ao treino, ao cultivo e à formação de jogadores no nobre esporte bretão em nosso país tropical e lindo por natureza desde a alvorada do século passado. Somos detentores de cinco títulos mundiais, marca até agora inigualada por ninguém outro no planeta, e a qualidade dos jogadores com RG brasileiro é cobiçada e reconhecida nos quatro continentes. Não precisamos de “aula de futebol”.
Precisamos, sim, é da verdadeira lição que o Barcelona deu em campo a todo o Brasil na manhã do último domingo. Que foi, em resumo, uma aula completa de profissionalismo, de seriedade, de comprometimento, de envolvimento, de trabalho em conjunto, de cidadania, de proatividade, de humildade, de foco, de abnegação, de método, de maturidade. Essa foi a verdadeira lição, e não poderia ser diferente, uma vez que, como também se repete à exaustão por aqui, “o futebol imita a vida”. O furo foi bem mais embaixo, senhoras e senhores. Precisamos abrir os olhos e perceber que nós, brasileiros, andamos levando goleada do mundo em muitos aspectos. Até no futebol.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 23 de dezembro de 2011)
Um comentário:
Marcos!
Parabéns pelo texto. Se o povo brasileiro valorizasse a educação, a cultura e a cidadania do mesmo modo que valoriza um jogo de futebol, viveríamos muito melhor.
Um grande abraço
Guilherme
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