Que o povo brasileiro em geral lê pouco, disso estamos calvos de saber. Mesmo assim, existe um aquecidíssimo mercado editorial que move boas cifras em nosso país, representado por incessantes lançamentos de novos títulos pelas editoras, que disputam espaço nas prateleiras das livrarias. É a essa pequena parcela de brasileiros que se dedicam à leitura que se destina grande parte dessas obras, porém, existem algumas peculiaridades que fazem o mercado editorial brasileiro ser digno de algumas análises. Por exemplo: o que lê, afinal, em geral, esse brasileiro leitor?
Para obter uma resposta definidora sobre a questão, a fim de darmos início ao esboço do perfil do brasileiro leitor, basta prestar atenção às listas de livros mais vendidos publicadas em vários órgãos da mídia impressa no país e também conversar com alguns livreiros. As listas de títulos mais procurados em feiras do livro também auxilia na conformação desse perfil que, curto e grosso, mostra o seguinte: o brasileiro que lê gosta de ler livros de auto-ajuda, livros com temáticas religiosas, biografias, obras de não-ficção (especialmente manuais sobre emagrecimento e outras atividades, dicas para todos os tipos de coisas, curiosidades etc) e coletâneas de crônicas.
Entre todos os gêneros citados, a crônica é o único que tradicionalmente costuma figurar entre as obras ditas literárias, à qual se unem o romance, o conto e a poesia. Assim sendo, o brasileiro, mesmo aquele que lê, segue consumindo pouca literatura, salvando-se com algum louvor o gênero crônica, especialmente aquelas edições que oferecem coletâneas de textos já publicados nos periódicos nos quais os autores colaboram, como revistas e jornais. Não é de se espantar, haja vista que a predileção dos brasileiros por esse gênero que, em sua origem, propõe ofertar ao leitor um híbrido entre o olhar jornalístico do cotidiano com algumas pitadas de literatura e poesia, já vem de muitas décadas. Não são poucos os estudiosos e literatos que ousam afirmar ser a crônica um gênero literário brasileiro por excelência, responsável pela formação de um verdadeiro panteão de nomes consagrados a partir do talento que dedicaram à consolidação desse tipo de obra.
Para citar apenas alguns nomes que engalanam o já citado panteão, podemos lembrar de autores como Machado de Assis, João do Rio, José de Alencar, Rubem Braga, Rachel de Queiroz, Sérgio Porto, Leon Eliachar, Fernando Sabino, Millôr Fernandes, Clarice Lispector, João Bergmann, Luis Fernando Verissimo, Moacyr Scliar, Carlos Heitor Cony, Martha Medeiros, David Coimbra, Cláudia Laitano, Fabrício Carpinejar, Jimmy Rodrigues e muitos outros. Todos valem a pena serem lidos, descobertos e redescobertos, tanto nas coletâneas lançadas em livros quanto acompanhando suas performances literárias nos jornais e revistas com os quais colaboram. Além do fruir de textos saborosos, a prática da leitura de crônicas pode servir de incentivo ao nascimento e cultivo do hábito de ler, essa atividade humana extraordinária que não pode de maneira alguma ser extinta, por se configurar como um dos mais divinos hábitos humanos.
(Texto publicado na seção "Planeta Livro" da revista Acontece Sul, edição de março de 2012)
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