(Quem diria que dessa frutinha é possível produzir um suco tão viciante?)
Você já tomou suco de butiá? Eu já, e viciei. Quem diria que
aquela frutinha amarela, de carne fibrosa que gruda nos dentes igual manga, que
marcou momentos de minha infância, iria reaparecer no meu leque de descobertas
sensoriais décadas mais tarde, em minha idade já prá lá de adulta? Jamais
imaginei butiá em forma de suco, e supunha que a última grande descoberta
gustativa que me haveria de intrigar as papilas ficara por conta, três anos
atrás, do picolé de melancia, que também é uma delícia inenarrável.
Mas agora me aparece o suco de butiá. É vendido em litrões
de garrafas pet reaproveitadas, na Feira Livre de Ijuí, minha terra natal, onde
apareço quando em vez para rever familiares e amigos e, agora, para me
embebedar de litros e mais litros de suco de butiá. Ijuí também é famosa por
produzir chope de primeira qualidade, afinal, é terra de alemães, mas ando tão
ensandecido pelo sabor do suco de butiá que chego a esquecer o casco de cinco
litros de chope na geladeira, para deliciar-me com as sensações proporcionadas
pelo líquido doce e também amarelo do suco de butiá.
Ahhhhh, um copão de suco de butiá descendo geladinho pela
garganta no calor de janeiro, não há o que pague. Tive de viver 46 anos para
experimentar esse sabor, para mim, inusitado. Não sou mais o mesmo desde que
experimentei suco de butiá. Ele acaba de desbancar para a segunda posição, em
meu ranking pessoal de sucos, o de uva branca, que também conheci faz pouco
tempo aqui na Serra e que tem sido minha primeiríssima opção de bebida em restaurantes
e festas desde o benfazejo e louvável advento da Lei Seca no trânsito. Se forem
analisar meu sangue, detectarão superdose de suco de butiá correndo em minhas
veias nessa época do ano. Ou de suco de uva branca.
Fui a Ijuí festejar o Ano Novo e trouxe duas garrafas de
suco de butiá. Não deu nem para a saída. Bebi tudo em apenas três dias e não
sei o que fazer agora com a fissura. Ijuí dista 400 quilômetros daqui. Não dá
para ir buscar mais a qualquer momento. Vou construir um Butiaduto ligando Ijuí
a Caxias do Sul para aplacar minha sanha. Até que um novo sabor inusitado
apareça no pedaço e me derrube os butiás do bolso. Sou mesmo bastante v(s)olúvel.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 18 de janeiro de 2013)
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